O encontro em Samarra: novos usos para velhas piadas

O ritmo de trabalho de Slavoj Zizek já era torrencial, mas a quarentena por causa da pandemia de covid-19 parece ter intensificado a sua produção ensaística. Entre vários artigos publicados, acaba de lançar aquele que é um dos primeros livros sobre a actual crise, Pandemic (OR Books), cujos direitos de autor serão doados aos Médicos sem Fronteiras. Neste ensaio enviado em exclusivo ao P2, o filósofo esloveno aborda a dificuldade de vermos aquilo que está à nossa frente e vaticina um pós-covid-19 pouco auspicioso.

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Lara Jacinto

Em todo o meu trabalho, usei pelo menos uma dúzia de vezes a velha piada sobre um homem que se considera um grão de milho e é internado num hospício, onde os médicos dão o seu melhor para o convencer que ele não é um grão, mas um ser humano. Assim que é dado como curado (convencido de que não é um grão de milho, mas um ser humano) e autorizado a sair do internamento, recai e volta a tremer de medo: do lado de fora da porta havia uma galinha e ele tem receio de que esta o coma. “Caro amigo”, diz o médico, “você sabe muito bem que não é um grão de milho, mas um homem.” “É claro que eu sei disso”, responde o paciente, “mas a galinha saberá?”

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