Sem mar à vista, a vela afina tácticas em regatas virtuais

Alguns dos melhores velejadores portugueses têm competido na J Boats Portugal VR Series, um troféu no qual é possível recriar situações reais.

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Há velejadores olímpicos em confronto ao leme de veleiros de sete metros, bóias para contornar, regras bem definidas, condições de mar e vento a ter em conta, e prémios para os melhores (e para o pior), mas, com Portugal a entrar em fase de mitigação da pandemia covid-19, ninguém infringe as recomendações da Direcção Geral de Saúde e as boas normas de cidadania. Com o “objectivo de manter viva a ligação” à vela e a “sanidade mental, nesta época tão difícil para todos de isolamento social”, a J Boats Portugal está a organizar regatas virtuais que permitem que “a componente táctica e estratégica da vela seja aplicada”, tal e qual como “se os velejadores estivessem no mar”.

A primeira edição aconteceu no início da semana passada e contou com a participação de 30 jogadores. A iniciativa agradou e, no último fim-de-semana, a prova já contou com quase duas centenas de competidores. Por isso, Luís Raposo Veríssimo, responsável pela organização da competição, não teve qualquer dúvida em avançar para a 3.ª Edição do J Boats Portugal VR Series, que arrancará já nesta sexta-feira – as inscrições terminam na quinta-feira, às 18h00.

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Com o apoio da Federação Portuguesa de Vela (FPV), o jogo é “como se fosse um simulador” e “já era utilizado por muitos velejadores em condições normais”, diz Luís Raposo Veríssimo. Habituado a passar “todos os fim-de-semana dentro de água”, seja como “velejador ou oficial de regatas”, o representante em Portugal da J Boats explica, em declarações ao PÚBLICO, que ao contrário de outros jogos virtuais que se têm tornado um escape para desportistas de alta competição nos últimos dias, a J Boats Portugal VR Series não é um mero passatempo: “Permite desenvolver tácticas e condições de estratégia em regatas de uma forma simples. Permite que se melhore procedimentos de largada e posicionamentos. Há muita coisa que se pode treinar no jogo e depois replicar na vida real.”

Com inscrição gratuita, o jogo pode “ser jogado através do browser ou de uma aplicação”. “Participam no máximo 20 velejadores por regata, com a duração de cinco a oito minutos. O procedimento é igual a uma regata real: há o processo de largada com uma linha. Os barcos têm depois que rondar umas bóias, há uma bolina [navegar contra o vento] e são percursos de barlavento para sotavento. São duas voltas e acaba à popa.”

Aberto a participantes com ou sem experiência - o jogo tem um guia inicial que permite aos jogadores terem uma noção da prática da vela -, na competição quem está habituado a velejar leva vantagem. É o caso de Diogo Costa. Campeão do Mundo na classe 470 em 2016, este velejador, de 22 anos, preparava-se para disputar em Abril a qualificação europeia para os Jogos Olímpicos e reconhece que, enquanto não pode voltar ao mar, o jogo serve de teste “em tudo o que é estratégica e táctica”. “Recria situações reais, o que é bom. No mar há uma dinâmica diferente e há muito mais coisas para controlar, mas todos os velejadores profissionais têm as suas manias – uns gostam de ir pelo exterior das bóias, outros pelo interior. Este jogo ajudou-me bastante a treinar as aproximações às bóias, que é quando os barcos se aproximam mais. Nisso o jogo é bastante interessante.”

“Nas circunstâncias em que vivemos”, Luís Rocha diz que esta é “uma excelente oportunidade para quem não pode fazer competição”, mas também uma porta aberta para “quem nunca fez vela”. O director técnico nacional refere, em conversa com o PÚBLICO, que a FPV “apoia ao máximo a iniciativa”, que contou na segunda edição com a participação de “três velejadores olímpicos [Álvaro Marinho, Gustavo Lima, Jorge Lima] e uma promessa olímpica [Diogo Costa]”.

Apesar de, “em função dos barcos, a estratégia poder mudar, os princípios são os mesmos” e Luís Rocha reforça que “no jogo toda a componente táctica e estratégica é aplicada como se estivesse no mar”, não tendo dúvidas em dizer que “tem uma aplicação efectiva para a prática”.

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