DGS já não divulga cadeias de transmissão e não traça perfil de doentes

Sistema de vigilância epidemiológica não permite, por enquanto, caracterizar doentes com sintomas mais graves e que estão internados em hospitais e em unidades de cuidados intensivos, diz a directora-geral da Saúde.

Foto
LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

A Direcção-Geral da Saúde (DGS) deixou de identificar e divulgar as cadeias de transmissão do novo coronavírus em Portugal. No sábado essa informação já não surgia no boletim diário com o balanço da situação epidemiológica e este domingo também não, ao contrário do que acontecia antes. Até este domingo havia 1600 casos confirmados da doença covid-19 provocada pelo novo coronavírus e 14 mortes em Portugal.

O facto de a DGS ter deixado de divulgar as cadeias de transmissão não significa que estas não existam. “Neste momento, em que temos 12.600 pessoas em vigilância activa, estamos a canalizar muito do trabalho das autoridades de saúde para a vigilância destes doentes, mais do que para que para encontramos cadeias de transmissão”, justificou a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, na conferência de imprensa para balanço da situação epidemiológica, alegando que este é um percurso normal:"Numa primeira fase, só eram casos importados, depois passámos a reportar cadeias de transmissão, e agora, à medida que essas cadeias têm menos relevo, deixámos de o fazer”.

Para gestão ao nível local, porém, as cadeias de transmissão continuam a ser muito importantes, assegurou.”À medida que os casos vão aumentando, algumas vão regredindo, vão surgindo outras (...). Já admitimos que há alguma circulação comunitária, sobretudo em algumas zonas do país”, explicou. A região Norte continua a ser a mais afectada, agora com 825 casos positivos, mais 181 do que no sábado.

Agora com 14 mortos, mais dois do que no sábado, a taxa de letalidade diminuiu ligeiramente (para perto de 0,9%) no país. O perfil das vítimas mortais é o “clássico”, ou seja, são “pessoas idosas e com múltiplas patologias associadas, informação que fica automaticamente registada no sistema de informação dos certificados de óbito (Sico)”. Já em relação ao perfil dos doentes internados (169) e dos que estão em unidades de cuidados intensivos (41), a directora-geral admitiu que não é possível traçá-lo por enquanto, porque a DGS ainda está a desenvolver formas de recolher automaticamente informação sobre o historial clínico de cada uma destas pessoas. Por enquanto, o formulário do Sinave (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica) que os médicos preenchem não permite o fazer. “Dentro de poucos dias podemos responder”, disse. 

A ministra da Saúde, Marta Temido, destacou, a propósito, a importância de os médicos fazerem os registos dos sintomas, as datas dos sintomas e da confirmação da doença das pessoas infectadas neste sistema de vigilância epidemiológica. “É muito importante o registo para termos dados epidemiológicos fiáveis e prever a evolução” do surto em Portugal, frisou.

Sobre a questão da imunidade ao novo coronavírus, afirmou que “tudo indica que há imunidade, pelo menos na maior parte dos casos”, mas considerou que “é prematuro”, neste momento, avançar com uma hipótese sobre a sua duração.

É cedo para perceber se contenção está a surtir efeito

Com um crescimento da curva de novos casos confirmados de 25% este domingo e 25,5% no sábado (na sexta-feira tinha sido de 29,9% e no dia anterior 22,3%), poderá dar-se algum fundamento à tese de que as medidas de contenção adoptadas em Portugal podem estar já a surtir algum efeito. A directora-geral da Saúde admitiu que a até à data “a curva tem tido um comportamento não explosivo”. Mas alertou: “Não me atreveria, com base em três ou quatro dias, em prever como vai ser o comportamento daqui para a frente. Nada nos deve deixar descansados. Temos que continuar muito atentos e estar preparados para que esta curva possa ter outro tipo de crescimento.”

Enquanto o número de casos positivos cresce, a percentagem de pessoas infectadas que permanece hospitalizada desce. Este domingo, apenas permaneciam internadas cerca de 10% e 2% estavam em Unidades de Cuidados Intensivos. Havia ainda 1152 pessoas a aguardar o resultado dos testes laboratoriais.

Perante a insistência dos jornalistas, a directora-geral da Saúde voltou a enfatizar que as máscaras de protecção dão uma “falsa sensação de segurança”. “Estamos aqui todos a trabalhar sem máscaras todos os dias, estamos distantes uns dos outros e isso é o fundamental”, salientou Graça Freitas, reiterando a importância de lavar frequentemente as mãos e de reduzir as vezes em que tocamos na cara. “As máscaras [de pano] não servem para praticamente nada. Dão uma falsa sensação de segurança. O pano não é impermeável, vai ficar húmido e os vírus vão passar”, especificou.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários