Nove em cada dez portugueses concorda com o estado de emergência

A esmagadora maioria dos portugueses concorda com o estado de emergência e uma grande parte considera que podia até ter sido aplicada mais cedo.

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O país já entrou em estado de emergência Rui Gaudencio

A declaração de estado de emergência, em resposta à pandemia convid-19, feita pelo Presidente da República na quarta-feira para um país com parte da população já em isolamento voluntário foi bem recebida pelos portugueses. A decisão que chegou a dividir o primeiro-ministro e o chefe de Estado foi consensual para os portugueses: 90% das pessoas concorda com a decisão de Marcelo Rebelo de Sousa. As conclusões são apresentadas num estudo feito nos dias 18 e 19 pela Marketest. 

Do total de inquiridos, apenas 6,3% não concorda com a declaração de estado de emergência. Já 3,7% não tem uma opinião ou não respondeu.

A convicção de que o Presidente da República tomou a decisão certa é maior entre as pessoas mais velhas, mas a diferença é ténue. Para 92% das pessoas com mais de 55 anos, Marcelo Rebelo de Sousa tomou a decisão certa. A percentagem desce na população entre os 35 e 54 anos (88%). 

É na faixa etária mais jovem que se encontra a maior fatia da população que não concorda com a medida: 9,7% das pessoas entre os 18 e os 34 anos não concordam com o estado de emergência. Os números mostram que isso pode ter mais com o timing da declaração do que com  decisão em si.

Isto porque, em relação ao momento da decisão, a opinião é menos consensual. A maioria dos portugueses (52%) considera que a declaração de estado de emergência já deveria ter sido tomada mais cedo. Ainda assim, uma fatia considerável (42%) considera que a decisão de declarar estado de emergência foi tomada na altura certa. Apenas 6% dos portugueses consideram que deveria ser adiada por mais algum tempo (não se sabe quanto).

Jovens temem falência do SNS

O mesmo estudo revela que os três maiores medos da população são: a taxa de mortalidade do vírus (35,3%); a possibilidade de falência da economia nacional (20,9%); e a falência do Serviço Nacional de Saúde (19,5%)​. Os receios passam ainda pela falência da economia mundial, a falta de alimentos, o desemprego ou o isolamento (em casa) por tempo indeterminado.

Curiosamente, os mais velhos são os que têm mais receito de ter de ficar em casa (mas a sua maior preocupação é a taxa de mortalidade). Ainda assim, é a população entre os 35 e 54 anos quem mais se preocupa (41,3%) com a taxa de mortalidade da covid-19. Já as preocupações dos mais jovens (entre os 18 e 34 anos) dizem respeito à falência do Serviço Nacional de Saúde.

14% da população parou de trabalhar 

Quanto às implicações desta decisão no trabalho dos portugueses, as respostas revelam que o estado de emergência traz poucas alterações às adaptações que já estavam a ser feitas nos últimos dias. Isto porque parte dos portugueses (30%) estava já em isolamento voluntário e em teletrabalho, seguindo as recomendações feitas pelo Governo na semana passada.

Mas há sectores que não irão parar (e cujo trabalho não pode ser executado à distância). Por isso, 33% dos inquiridos revelam que vão continuar a exercer a sua actividade nos respectivos locais de trabalho.

Não obstante, haverá inevitavelmente um impacto em parte da população. Para 12% dos inquiridos, os próximos dias significarão uma adaptação ao teletrabalho (o Governo decretou que todos os trabalhos que podem ser feitos à distância devem funcionar em regime de teletrabalho). Contas feitas, nas duas próximas semanas, 42% da população estará em teletrabalho.

No entanto, os efeitos mais fortes do estado de emergência (com o encerramento de serviços e estabelecimentos considerados não essenciais) irão cair sobre 14% da população que fica impedida de trabalhar nas próximas semanas. A faixa etária mais afectada pela decisão corresponde à população com idades entre os 35 e os 54 anos (20%), contra 14,6% da população entre os 18 e os 34 anos e 5,8% da população com mais de 55 anos.

Os portugueses mostram-se ainda conscientes do quanto se podem prologar as circunstâncias extraordinárias que estamos a viver: para 34% da população, as limitações associadas ao coronavírus podem durar um a dois meses. Mas há quem aponte para mais: 31% acreditam que os efeitos se prolongarão pelo menos mais dois a três meses.

A declaração de estado de emergência foi anunciada na quarta-feira pelo Presidente da República. Antes, o decreto presidencial foi previamente discutido com o Conselho de Estado e aprovado na Assembleia da República com os votos a favor do PS, PSD, CDS, BE, PAN, Iniciativa Liberal e Chega e com as abstenções do PCP, do PEV e da deputada Joacine Katar Moreira.

A recolha da informação para o estudo aconteceu logo após a declaração do Presidente da República, entre as 21h de 18 de Março e as 16h de 19 de Março. No total, foram entrevistadas 501 pessoas. Os resultados do estudo foram ponderados e extrapolados para o universo em estudo 8250 pessoas.

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