Kiluanji Kia Henda vence projecto para memorial às vítimas da escravatura

Uma grande instalação escultórica vai ser erguida no Campo das Cebolas, em Lisboa: o Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas, que figura uma plantação de açúcar.

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O projecto do artista angolano Kiluanji Kia Henda, intitulado “Plantação – Prosperidade e Pesadelo”, é o vencedor do concurso por convites para a construção do memorial de homenagem às vítimas da escravatura, revelou a Djass – Associação de Afrodescendentes na sua página no Facebook. Kia Henda propõe-se instalar no Campo das Cebolas, em Lisboa, uma plantação com 540 canas-de-açúcar em alumínio preto.

Após seis sessões públicas de votação, com a última a decorrer no sábado em Rio de Mouro (Sintra), a proposta de Kia Henda derrotou os projectos de outros dois artistas afrodescendentes, Grada Kilomba (Lisboa, 1968) e Jaime Lauriano (São Paulo, 1985). Era a mais figurativa das três obras. 

“Estamos muito felizes pela forma como decorreu o processo, pela participação das pessoas e dos concelhos que nos acolheram”, explicou ao PÚBLICO Evalina Gomes Dias, presidente da Djass, acrescentando que as diferentes votações procuraram ter lugar em áreas com uma forte presença de população afrodescendente. Ao todo, terão votado uma centena de pessoas, adiantou ainda a presidente.

O memorial tem um financiamento de 150 mil euros através do Orçamento Participativo da Câmara Municipal de Lisboa de 2017/2018. Depois da selecção do artista, a produção da obra será da responsabilidade da autarquia lisboeta.

Entre as três propostas, a obra do artista angolano, que nasceu em Luanda em 1979, é a que atinge uma escala maior, tendo uma expressiva presença urbana com os 540 pés de cana-de-açúcar a subirem até aos três metros de altura.

Na última década, Kia Henda conheceu uma significativa projecção internacional, tendo vencido em 2017 o Frieze Artist Award da feira londrina e sido seleccionado em 2019 para o projecto Unlimited na feira de arte de Basileia. 

O artista, que tem trabalhado a memória colonial principalmente através da fotografia e da performance, muitas vezes com um toque de humor, compôs uma grande instalação escultórica com pés de cana-de-açúcar, produção que provocou um tráfico de escravos intenso entre os dois lados do Atlântico, e que vem emprestar um ar inesperadamente exótico ao Campo das Cebolas.

“A obra pretende tratar a memória da escravidão enquanto presença de uma ausência, pois não acreditamos ser possível representar de forma directa e realista tamanho trauma transnacional”, diz a memória descritiva do projecto.

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