Tens sempre uma escolha. Usa-a.

Se, por qualquer razão, te deparares com uma escolha difícil, toma-a. É tua. Tudo o que fazemos é reflexo das escolhas que fazemos.

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O Inverno já vai longo, as chuvas vão lavando a terra do chão e os ventos vão ralhando arbitrariamente enquanto vamos resistindo ao cinzento destes dias. Andamos mais curvados e engrunhidos em torno dos casacos, que já pesam sobre os ombros. Andamos sobre arames frágeis entre o bom e o mau humor que se nos vai suscitando a cada palavra mal recebida ou gesto mal-amado.

Somos hábeis a rejeitar o que não provámos e a aceitar o que não escolhemos. Fomos sempre assim como povo, e mais somos enquanto pessoas. São duras as mãos que constroem a vida, e mais dura é esta que escolhe não ceder às nossas vontades e que torna tão difícil acreditar que o mundo é de facto um sítio bonito. Antes acreditávamos que a Deus nada era impossível, mas com o tempo fomos descobrindo que todas as possibilidades e hipóteses que temos são por nós desenhadas e materializadas. Nem sempre escolhemos os melhores caminhos, mas temos sempre a possibilidade de dizer que sim ou que não àquilo com que nos deparamos todos os dias.

Se, por qualquer razão, te deparares com uma escolha difícil, toma-a. É tua. Tudo o que fazemos é reflexo das escolhas que fazemos, muitas vezes sem pensar nas suas consequências, nem a achar que estamos, de facto, a fazer uma escolha — mas até quando decides não fazer nada, não dizer nada, estás a escolher. Estás a optar entre a indiferença e a força de uma atitude. Escolhes, enquanto indivíduo, ser ou não construtor de algo colectivo.

É essa a fronteira que divide todas as opções que vamos tomando, ou seja, a linha ténue que separa a escolha individual daquela que representa uma vontade colectiva intrínseca a qualquer ser humano. Uns tomam-na e outros optam por escolher outra coisa. Uns escolhem passar o Inverno a reclamar com a chuva, outros escolhem vê-la cair sobre os montes, sobre os prédios e sobre as pessoas. Uns optam por lamentar-se com o frio e com o vento, outros preferem ouvir o som das rajadas a percorrer as folhas das árvores e a serpentear os becos e ruelas. É fácil tornar o Inverno menos rigoroso, transformá-lo numa Primavera cinzenta que lança a semente para uma Primavera florida. Mais rigoroso que o Inverno é a nossa inércia em ultrapassá-lo. A poesia não está apenas no sol, mas também nas aragens e geadas, na neve e no nevoeiro.

Não há lugar para hesitações porque não estamos cá para criar raízes, antes para lançar sementes. Temos sido, ao longo dos séculos, muito cruéis uns com os outros. Não foi só contra o planeta que lançámos a nossa ofensiva, mas também contra nós. Temos sempre a opção de viver conforme as nossas convicções ou permitir que as escolhas de uns se transformem no viver de todos. Não vale assobiar para o lado e fingir que não temos nada a ver com isto ou com aquilo, sendo que todos somos responsáveis pelas opções da sociedade de que inevitavelmente fazemos parte.

Assim me parece ser a vida, um lapso de tempo em que nos é permitido olhar o mundo como ele o é, ou como gostássemos que fosse. É o momento em que nos é colocada a responsabilidade de escolher o mundo que queremos deixar depois da nossa passagem. Não é o mundo per si, enquanto persona natural e selvagem, o único que vale a pena salvar, porque se o salvarmos para que outros como nós vivam sem conhecer a realização das suas aspirações, não vale a pena existir planeta para deixar. É neste fio da navalha que vivemos.

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