Cartas ao director

Alegoria à eutanásia

Andava às voltas com esta coisa da eutanásia. Sofria indizivelmente e cheguei a querer morrer. Disseram-me que, quando tivesse a questão resolvida dentro de mim, conseguiria serenar. Porque só o sofrimento pode conduzir à Objectividade. Tinham razão: consegui acalmar-me. Com a morfina. A questão continuou por resolver, mas já não andava por perto. Mais tarde, quando ganhei tolerância à morfina, regressou a minha inquietação. Sabia que teria de sofrer para aprender a morrer. Guinchei como um porco, mas resultou. Consegui, finalmente, dissolver a minha dúvida. Quando morri. Deste lado, não encontrei Deus, pelo que mais valia ter abreviado o caminho.

Luís Coelho

Tiro de misericórdia

Não consta que algum militar em combate tenha sido criminalizado por ter praticado o tiro de misericórdia num colega, retirando-lhe o sofrimento sem solução. Nesse momento, este partiu para um estado metafísico que não sentimos, mas o colega que lhe antecipou a morte partiu para um sofrimento inimaginável para toda a sua vida.

A vida é um mistério, quer na origem, quer no fim. Ao contrário da morte, o homem nunca conseguiu criar vida, mas apenas manipular a vida existente. Após a última guerra e de uma forma determinada, o homem tem vindo a dividir-se entre os urbanos e os rurais. Se os rurais têm a experiência da vida e a da morte, já os urbanos afastam-se da experiência da morte. Os mais jovens têm menos experiência da morte e os mais velhos têm-na maior. Tudo isto é da nossa natureza humana e todos temos experiências diferentes perante estes mistérios. 

Perante a presente discussão e debate sobre a eutanásia, deveríamos ser afectados por uma humilde perturbação da consciência que nos afaste de emitir opiniões firmes e assertivas, deixando este assunto tão complexo para quem tem experiência de vida e experiência da morte. Os conselhos de ética dos hospitais têm-na mais que ninguém.

António Matos, Viana do Castelo

Atendimento telefónico caótico em Portugal

Portugal é, seguramente, dos países da Europa onde os telefones funcionam pior. Já há muitos anos, o príncipe de Edimburgo, após visita de 30 dias aos EUA, deu uma conferência de imprensa no final, e tendo-lhe perguntado o que mais tinha apreciado, respondeu: o funcionamento dos telefones. Os nossos telefones, infelizmente, situam-se nos antípodas. Surgem barulhos horríveis nas ligações, que parecem autênticas sirenes a tocar, e não só. Se fossem só os ruídos... Há vários dias úteis que ligo para a Segurança Social, só para obter informação, e ainda ninguém me atendeu! Quando quero comprar bilhete para o Expresso, telefono para a Rodoviária e o tempo de espera pelo atendimento é de tal ordem - e eu a pagar - que digo, em tom irónico: fica-me mais cara a chamada do que o bilhete! Resolver o problema é que não. Seria, provavelmente, pedir demais. Os telefonemas para a Meo são o que toda a gente sabe. Primeiro que atendam, quase que dá para chegar a uma loja! Bell, o inventor do telefone, deve estar a remexer-se no túmulo com a fraquíssima prestação de Portugal.

Simões Ilharco, Lisboa

Sugerir correcção
Ler 1 comentários