Cartas ao director

Morte assistida

É no mínimo deprimente o espectáculo que se organiza em torno da discussão/votação sobre a eutanásia - a Igreja Católica mobilizando-se em nova cruzada ou como se Herodes se tivesse materializado para um genocídio, políticos contra rivais, histeria e desinformação onde deveria haver serenidade e seriedade... Fala-se apenas da Bélgica e da Holanda, ignorando o Luxemburgo, a Suíca, 10 estados nos EUA, Canadá etc. Porque não compreender que se trata apenas de cada um segundo a sua consciência e circunstância ter direito “a ser assistido” no momento em que “precisa” morrer...

Maria Rodrigues, Lisboa

Intolerâncias

Impor aos outros opções em matérias do nosso foro pessoal é uma manifestação de intolerância,  incompatível com os avanços da civilização. No caso da eutanásia, tentar impedir o direito de optar pela morte pelo facto de não haver uma boa rede de cuidados paliativos, é apenas o uso abusivo duma retórica a que falta a ética necessária a uma discussão séria.

A legalização da eutanásia não impõe aos cidadãos religiosos qualquer obrigação de optarem pela morte assistida; ao contrário, parece que em nome da religião se pretende impor que quem esteja em situação de sofrimento, sem qualquer possibilidade de cura, continue a sofrer até ao fim. Ao adoptar esta atitude sádica, desrespeitando a vontade dos outros, a Igreja Católica está a fazer-nos regressar aos fantasmas da Inquisição.

José Cavalheiro, Matosinhos

Eutanásia

Os deputados portugueses consideram bastar uma maioria simples para legalizar a despenalização da eutanásia, assim colocada ao nível do IVA das touradas. Se se exige uma maioria de dois terços para aprovar uma norma considerada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, que legitimidade terá a despenalização da eutanásia - uma prática desde sempre considerada criminosa pela sociedade e interdita pela legis artis, a ética e a deontologia médicas - por maioria simples? O imbróglio do “Brexit” não deveria servir de aviso?

Henrique Carmona da Mota, Coimbra

Hipocrisia

Sou acérrimo oponente da pena de morte e, até à morte da minha mãe, da eutanásia. Morreu dois anos depois da cirurgia a um cancro da mama cujas metástases no cérebro lhe roubaram a visão, a fala e a audição. Acamada, contorcia-se com dores e chamávamos o médico, que lhe ministrava morfina. Os últimos meses de vida foram horrorosos e reconheço que não levaria a mal ao médico se aumentasse a dose.

Confrange-me a hipocrisia desses movimentos ditos de apoio à vida.

Na minha adolescência, ainda havia no mundo rural uma prática para os casos terminais. O padre vinha a casa dar a extrema-unção finda a qual entrava a “abafadeira” - uma idosa que com uma almofada apressava a morte. Nem o padre nem a população condenavam o ato…Acertou Tolstoi quando defendeu que se deve valorizar a opinião dos estúpidos porque são a maioria.

Gaspar Martins, Porto

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