Após uma década de espiões e terrorismo, Segurança Nacional chega ao fim

Agente Carrie Mathison regressa esta quarta-feira na Fox para se despedir, mas volta ao princípio da sua história. “A série sempre foi uma meditação sobre como a América reagiu ao 11 de Setembro.”

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Claire Danes em Segurança Nacional Sifeddine Elamine/Showtime

Depois de Jack Bauer, Carrie Mathison. Este poderia ser o resumo de duas décadas de histórias televisivas sobre terrorismo e espionagem num palco americano com vista, a sua vista muito particular, para o mundo. A sua ronda chega agora ao fim, com o início da oitava e última temporada de Segurança Nacional, a série que deu a Claire Danes o seu mais longo papel e que vai levá-la de novo ao princípio. É que Mathison não é um lobo solitário e a par dela houve Nicholas Brody, o soldado que podia ou não ser um agente duplo e cuja química com a agente da CIA tornou a primeira temporada numa das mais elogiadas da sua década. E, no fim de tudo, Carrie tinha de ser Brody.

Pelo menos é o que os criadores da série – que também foram produtores de 24 e do Jack Bauer de Kiefer Sutherland – decidiram há anos. Ausente dos ecrãs da Showtime nos EUA e da Fox em Portugal (a série é produzida pela 20th Century Fox) desde 2018 para uma pausa criativa dos autores e de maternidade para Danes, regressa esta quarta-feira às 23h05 na Fox, três dias depois da estreia nos EUA.

À oitava temporada, Carrie Mathison tem de reconstituir a sua memória, e recuperar o equilíbrio na sua doença bipolar, depois de sete meses presa na Rússia. E de conquistar a confiança dos seus pares, um pouco à semelhança da experiência de Brody (Damien Lewis) no seu regresso após oito anos de cativeiro nas mãos da Al-Qaeda e de ter sido convencido a virar-se contra os EUA. “Não só suspeitam dela como ela suspeita de si própria”, disse há dias o showrunner Alexa Gansa à revista Variety. Depois, não sabemos bem em que condições, irá para um dos palcos da intervenção militar norte-americana, o Afeganistão, para completar a modesta tarefa de negociar a paz com os taliban.

Gansa e Howard Gordon são os criadores da série, inspirada no original israelita Prisioneiros de Guerra, e têm resumido Segurança Nacional como um thriller político que faz “perguntas que só podiam ser feitas dez anos depois do 11 de Setembro”, como dizia Gordon em 2017 ao PÚBLICO. “Essas perguntas foram-se tornando mais e mais interessantes”, diz agora Gordon na Variety.

Vencedora de seis Emmys e uma das raras constantes dramáticas numa década de televisão norte-americana, “a série sempre foi uma meditação sobre como a América reagiu (ou exagerou) ao 11 de Setembro e como conduzimos a guerra ao terrorismo e como a indústria do contra-terrorismo mudou o nosso país”, prossegue Gansa. O que mudou e o que se aprendeu – ou não  são o seu sumo, e o aconselhamento prévio em Washington e num “spy camp” com funcionários dos serviços de inteligência dos EUA fazem parte da lenda de Homeland, no seu título original.

Os seus ingredientes são acção, tensão e cliffhangers (finais de episódio em que tudo fica suspenso até ao capítulo, ou temporada, seguinte) na era do binge watching – foi em 2013, dois anos depois da estreia de Segurança Nacional, que a Netflix mudou o jogo e disponibilizou pela primeira vez uma nova série, o drama político House of Cards, de uma vez só.

E depois há as personagens, em particular o duo Carrie (que o canal não queria que fosse interpretada por Danes, mas sim, por exemplo, por Robin Wright – que se tornaria rosto de House of Cards) e Saul Berenson (Mandy Patinkin).

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Claire Danes e Mandy Patinkin

“Mathison é uma protagonista universal: é a pessoa a quem não dão o devido valor. Farta-se de trabalhar, anda sempre sob stress, sacrifica a vida pessoal e, mesmo assim, duvidam dela e não fazem o que ela quer”, descrevia em 2012 o colunista do PÚBLICO Miguel Esteves Cardoso. A relação com o seu mentor na CIA, aparente farol de confiança numa história de traição, é a sua constante. “São dois patriotas”, diz Patinkin ao New York Times. Hoje, diz na mesma entrevista, na vida real “somos família”.

Em 2011, “era difícil ignorar o impacto” que a série teve, diz Danes ao jornal Los Angeles Times. Depois vieram os anos menos bons, a crítica e parte dos espectadores foram trocando os elogios pela desilusão, ou, pior, pela indiferença. Não escapava às críticas à forma como representa os muçulmanos, o vilão preferencial, e até apareceram graffiti sobre isso numa parede de uma zona onde filmavam. Mas a série perseverou, diversificou a sua sala de argumentistas, encontrou novos homens de força (Rupert Friend como Peter Quinn) e atravessou um mar televisivo em mudança ocupando o espaço do drama adulto de prestígio simultaneamente acessível e que era um espelho de uma realidade cada vez mais parecida com a ficção – a eleição de Donald Trump e outras mudanças na paisagem política tornaram tudo mais desafiante

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