Corrida ao ouro em baixa órbita: a caminho de 20.000 satélites nos céus

Constelações concorrentes de satélites vão trazer Internet a todo o planeta. Astrónomos estão preocupados com a poluição gerada nos céus, onde estes objectos em órbitas mais baixas chegam a ser visíveis a olho nu.

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Um foguetão Soyuz parte de Baikonur, no Cazaquistão, com 34 satélites da OneWeb a bordo Reuters/ROSCOSMOS

E lá vão mais 34. Esta sexta-feira, um foguetão Soyuz operado pela francesa Arianespace partiu do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, com mais uma leva de satélites que vão ficar em baixa órbita, juntando-se ao que vai ser uma gigantesca constelação de objectos à volta do planeta, que vai trazer a Internet aos cantos mais remotos da Terra. 

Mas desta vez não é a SpaceX de Elon Musk a protagonista da história. A também norte-americana OneWeb é a proprietária dos 34 pequenos satélites (cada um com um peso de 147kg) que até final de 2012 estarão acompanhados de outros 614. E, anos mais tarde, de outros 5000.

A SpaceX, por seu turno, já tem 240 pequenos satélites em baixa órbita, e a sua constelação Starlink deverá crescer, pelo menos, até às 12.000 unidades nos próximos anos. Ao mesmo tempo, a Amazon também planeia uma constelação de mais de 3.000 satélites em baixa órbita, tal como a canadiana Telesat e mesmo o Facebook (para já, ainda em fase de projecto). Todas concorrem a um lugar de destaque como fornecedores globais de Internet, seja directamente ao cliente (como a SpaceX), sejam através de operadoras de telecomunicações já existentes (como é o modelo de negócios da OneWeb).

Esta nova “corrida ao ouro dos satélites”, como descreve a revista Wired, multiplicará exponencialmente o número de objectos artificiais em redor do planeta. Actualmente, as Nações Unidas têm registo de cerca de 2.000 satélites operacionais em órbita (ao todo, e desde a Guerra Fria, foram lançados mais de 9.000). Nos próximos anos, e somando apenas os números da OneWeb, SpaceX e Amazon, passam a ser mais de 20.000.

Mas se esta nova corrida ao espaço promete democratizar o acesso às telecomunicações e reduzir custos para os clientes (e criar novas fortunas no sector aeroespacial), há quem alerte para um drástico aumento da poluição em órbita. À cabeça, a comunidade internacional de astrónomos, que tem protestado sobretudo contra o projecto Starlink da SpaceX. Isto porque, devido à sua baixa órbita (centenas de quilómetros abaixo dos satélites convencionais) e ao próprio revestimento reflector, os satélites de Elon Musk são visíveis a olho nu, sobretudo nos primeiros dias após o seu lançamento. 

A Associação Americana de Astrónomos (AAS, na sigla inglesa) e a homóloga britânica avisam que, em breve, poderá haver mais satélites a brilhar nos céus do que as estrelas visíveis a olho nu, o que alteraria irreversivelmente a paisagem celestial e prejudicaria o trabalho científico.

Em resposta, a SpaceX decidiu pintar de preto os próximos satélites a serem lançados, de modo a tentar reduzir a sua reflectividade. Por sua vez, a OneWeb argumenta que a sua constelação deverá ser menos visível que a concorrente, por estar numa órbita ligeiramente superior. Mas sem certezas. “Adorava poder dizer que isto não será um problema para nós, mas não temos a certeza. O que posso dizer é que estamos a trabalhar para minimizar o impacto para a astronomia e para o céu nocturno”, disse Adrián Steckel, CEO da OneWeb, ao site Ars Technica

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