Cartas ao director

A questão de Angola

Pelos vistos, todos os em que Angola – bastas vezes com a cumplicidade de políticos, advogados, empresários e media portugueses – têm ao longo destes mais de 40 anos pós-independência assaltado as riquezas do povo angolano, arranjaram agora um bode expiatório, que é a Isabel dos Santos.

Esta não é senão a face, que agora se tornou visível, da corrupção generalizada que sob a égide do MPLA, partido no poder desde a independência, tornou como política de Estado a criação de uma vasta elite corrupta que se tem limitado a transferir a riqueza gerada pelas abundantes matérias-primas para o exterior e em benefício próprio, perpetuando a pobreza e miséria da maioria do povo angolano.

A questão que todos persistem em ignorar é que a independência de Angola apenas se traduziu na substituição do regime colonial português com uma singular diferença: é que os dignatários do neo-colonialismo interno angolano já conseguiram em apenas 40 anos roubar e transferir para o exterior de Angola muito mais do que em toda a era colonial de 500 anos desde que Diogo Cão aportou com as suas naus à foz do Zaire.

Carlos Antunes, Parede

Carta a Isabel

A situação não está boa, Isabel. De todo. Imagino o sofrimento porque estás a passar depois de todo este escândalo que se abateu sobre ti. O que era certo deixou de o ser. Os que se diziam amigos viraram as costas e no teu próprio país, onde a tua família teve um papel crucial na sua construção após a independência, o presidente persegue-vos como se fossem antigos rivais da UNITA.

Tenho acompanhado este caso do Luanda Leaks e por isso te escrevo para te dizer que, julgo, nem tudo está perdido. A minha esperança é que te tornes numa pessoa bem mais sensata e prescindas de todo o dinheiro que te é reclamado pelas entidades angolanas. Sugeria-te também que te oferecesses como embaixadora da UNICEF e ajudasses a combater a miséria que se encontra em cada canto e esquina de Angola. Seria uma imagem poderosíssima, ver-te a espalhar a alegria e a esperança nos imensos bairros de lata de Luanda, depois de teres passado pelo vexame por que estás a passar.

E a partir daí, então sim, poderias ambicionar, com toda a legitimidade, a presidência de Angola. Depois de teres sido a mulher mais rica de África, tornavas-te a primeira mulher a governar um país africano. Que grande bofetada de luva branca davas a todos aqueles empresários, políticos, banqueiros, que te ajudaram, promoveram, financiaram, e depois te viraram costas como se nada fosse com eles!

Pedro Carneiro, Ermesinde

​Ainda a morte do estudante Giovani

A capacidade de gerar ódio pode animar os autores deste acto terrível. Vão ser julgados os arguidos. Bem melhor assim. Mas a comunicação social e mesmo as autoridades deviam sempre pôr em evidência o ódio nestas situações. Só um ódio atroz sentido pode gerar tanta violência num caso fútil e torpe. O ódio tem sempre de ser combatido também no plano das ideias nas sociedades democráticas. Haverá menos homicídios de ódio. O fútil e torpe ódio afinal.

José Elias e Freitas, Bruxelas

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