Os super-heróis da crítica

Mal começou a discussão, no espaço público mediático, sobre o racismo em Portugal e logo o debate se tornou circular: de um lado e de outro reduzem-se os intervenientes e as questões a meras caricaturas. As respostas, as reacções e os contra-argumentos criam uma carapaça onde se alojam identidades crispadas, centrípetas e cheias de certezas, transformando tudo em armas de arremesso. Rapidamente se chegou ao momento em que os presumidos racistas e anti-racistas entram no jogo da reversibilidade: são racistas os anti-racistas e são anti-racistas os racistas. Esta lógica da discussão, que é uma máquina enlouquecida, um delírio da dialéctica, está generalizada, afecta toda a discussão política (a retórica parlamentar vive neste estado permanente) e radicaliza-se nos temas actuais do género, das identidades e da ecologia, onde se caminha para uma discussão que é sempre uma crítica da crítica da crítica, sem fim. O que daí resulta é uma espécie de paralisia: o ambiente hipercrítico é a condição para que nada se transforme, a anestesia e o radicalismo da crítica e da indignação são as duas faces da mesma moeda.

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