Como uma “missão secreta” recuperou cinco quadros roubados há 40 anos de um museu na Alemanha

Roubados em 1979 e passados clandestinamente entre a fronteira interna alemã, os cinco quadros foram resgatados no fim de 2019. As investigações vão prosseguir para encontrar os ladrões originais e para perceber como foi executado o roubo.

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Os cinco quadros em exposição Fundação Schloss Friedenstein Gotha
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Quadro de Frans Hals analisado ao microscópio Fundação Schloss Friedenstein Gotha
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Retrato de Santa Catarina, da autoria de Hans Holbein Fundação Schloss Friedenstein Gotha

A forma como cinco quadros avaliados em quatro milhões de euros foram roubados e passados clandestinamente através da que era, em 1979, a fronteira mais fortificada do mundo (a fronteira interna alemã) ainda hoje é um mistério.

O roubo de cinco quadros dos séculos XVI e XVII, da autoria de Hans Holbein, Frans Hals, Ferdinand Bol, Antoon van Dyck e Jan Brueghel, chocou a população da cidade de Gotha, na Alemanha Oriental. Ao The Art Newspaper, Tobias Pfeifer-Helke, director da Fundação Schloss Friedenstein Gotha, avança que, na altura, mais de mil pessoas foram interrogadas pela polícia e pela Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental. Mas os quadros nunca chegaram a ser recuperados.

Quase 40 anos depois do roubo, em 2018, Knut Kreuch, presidente da Câmara de Gotha, começou a receber chamadas telefónicas estranhas. “Tenho algo para si”, dizia a voz do outro lado. Kreuch acabou por receber uma série de fotografias a cores das cinco pinturas, enviadas por um advogado. As únicas imagens que tinha visto eram a preto e branco. A história dos clientes do advogado era no mínimo rebuscada. Os pais, de quem tinham herdado os quadros, pagaram uma espécie de resgate para ajudar alguns amigos a deixar a Alemanha Oriental. Em troca, e como garantia, terão recebido as pinturas. Ainda segundo o advogado, relata a revista alemã Der Spiegel, os seus clientes chegaram a pedir cinco milhões de euros pelas pinturas.

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Quadro de Frans Hals, de 1535 Rathgen Research Laboratory of the National Museums in Berlin

O presidente da câmara conseguiu, depois de meses de negociação, fazer com que o advogado concordasse em trazer os cinco quadros para que a sua autenticidade fosse provada no Laboratório de Pesquisa Rathgen, um instituto de pesquisa dos Museus Nacionais de Berlim. 

Numa “missão secreta” que teve lugar a 30 de Setembro de 2019, uma carrinha estacionou do lado de fora do Instituto e o seu condutor descarregou cinco “encomendas”. As pinturas, depois de provado que eram verdadeiras, só voltariam a sair dali para irem para o local de onde foram originalmente roubadas, a Fundação Schloss Friedenstein. O condutor e advogado foram acusados de chantagem e posse de bens roubados.

Depois daquele que foi o maior roubo de arte da Alemanha Oriental, o presidente da câmara conseguiu fazer com que os quadros voltassem a casa sem pagar nenhum tipo de resgate. Ainda assim, as forças policiais garantem que as investigações vão continuar, não só para revelar a identidade dos ladrões originais dos quadros, mas também para perceber como foi executado o roubo.

Certo é que a partir de 26 de Janeiro as cinco pinturas estarão em exibição na Fundação Schloss Friedenstein Gotha​. Depois disso, serão restauradas em preparação para uma exposição sobre o roubo de Gotha, que será inaugurada em 2021.

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