A integridade desportiva é uma causa global

A manipulação de resultados sempre existiu e é uma questão global, que apenas pode ser mitigada de uma forma também ela global.

O jornal PÚBLICO deu recentemente destaque de primeira página ao tema do jogo online, incluindo um conjunto de artigos assinados pelo jornalista Paulo Curado e que abordam temas de elevada relevância para o sector. Neste artigo, e na qualidade de presidente em exercício da APAJO – Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online, gostaria de acrescentar algumas novidades que complementam a informação recolhida pelo jornalista no que diz especificamente respeito ao tema da integridade desportiva.

No final de 2019, a APAJO assinou um Memorando de Entendimento pioneiro com a Sportradar Integrity Services, visando precisamente a prevenção da manipulação de resultados de maneira organizada e global. É claro que todos os nossos membros estabeleceram sistemas e parcerias que ajudam a monitorizar padrões incomuns de apostas e atividades das contas. Mas este acordo com a Sportradar vem reforçar as atividades individualmente desenvolvidas pelos operadores, ao nível da integridade desportiva. E não apenas no futebol, mas em todos os desportos.

O pioneirismo deste Memorando de Entendimento advém do facto de ser a primeira vez que a Sportradar Integrity Services celebra um acordo deste teor com uma associação do sector. Pioneirismo esse que conjuga bem com o facto de Portugal ter sido um dos primeiros países a ratificar a Convenção de Macolin, nome pela qual é conhecida a Convenção do Conselho da Europa para a Manipulação de Competições Desportivas, em vigor desde 1 de setembro de 2019.

Quer a Convenção de Macolin quer o Memorando de Entendimento entre a APAJO e a Sportradar partem do mesmo pressuposto: o de que o ‘match fixing’ é uma questão global que apenas pode ser mitigada de uma forma também ela global, através de estratégias, parcerias e acordos internacionais, eficazes e assentes em sinergias. 

A manipulação de resultados sempre existiu. Mas, hoje em dia, também graças ao rastreamento completo das atividades na Internet, é possível identificarmos esses problemas de uma maneira mais fácil e rápida. Temos em Portugal uma regulamentação muito estrita e rigorosa, que por si só já mitiga possíveis riscos básicos. No entanto, como o artigo escrito pelo jornalista Paulo Curado salientou, o futebol português é usado para a manipulação de resultados que ocorre na Rússia ou na Ásia. E isso evidencia bem que, particularmente no que diz respeito à integridade desportiva, não basta desenvolver um trabalho seletivo, sendo indispensável cooperar a todos os níveis numa escala internacional.

Naquilo que à APAJO diz respeito, iremos apoiar todas as iniciativas internacionais que ajudem a reduzir e impedir manipulações nos desportos. Estamos a avaliar também a realização de um programa educacional que gostaríamos de apoiar. Muitas vezes os atletas não têm dinheiro para viver da sua prática desportiva e financiam-na até do próprio bolso. Se queremos eliminar a viciação de resultados, precisamos primeiro de informar os jovens atletas sobre os riscos relacionados com a fraude, mas precisamos também de promover um melhor financiamento do seu envolvimento no desporto. É aí que queremos participar e ajudar.

A APAJO foi fundada no final de 2018. Mas desde então já divulgámos estudos e sondagens que permitem definir com maior precisão o sector do jogo online em Portugal e os hábitos dos apostadores, face a outros países. Atualmente, estamos a explorar novas oportunidades de cooperação com parceiros nacionais e internacionais. Este é o caminho a seguir para bem da integridade desportiva e para o qual estamos certos de continuar a contar com a companhia de jornais como o PÚBLICO, que acompanham de perto o sector e os seus desenvolvimentos. 

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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