A gestão em Portugal é “fraquíssima” ou apenas fraca?

A qualidade da gestão é um problema da economia e é bom que os problemas sejam encarados e não silenciados por supostamente “denegrirem” ou “destratarem” alguém.

António Saraiva, o patrão da organização que representa os patrões portugueses esmerou-se no comunicado da CIP em que acusa o ministro dos Negócios Estrangeiros de “denegrir injustamente” ou de “destratar” as empresas portuguesas. João Almeida, candidato à liderança do CDS, não ficou atrás e acusou Augusto Santos Silva de promover a “maior desconsideração de sempre de um governante ao tecido empresarial português”.

Tudo isto porque o ministro teve a ousadia de dizer que a qualidade da gestão em Portugal “é fraquíssima”. Mentiu? Todos os estudos nacionais e internacionais provam a sua tese. A qualidade da gestão é um problema da economia e é bom que os problemas sejam encarados e não silenciados por supostamente “denegrirem” ou “destratarem” alguém.

Dito por um membro de um governo que passa ao lado dos problemas da economia real, o superlativo absoluto sintético do adjectivo soa a excesso de presunção. Mas  esqueçamos o grau do adjectivo e o seu autor e concentremo-nos no essencial: a gestão das empresas é boa? Não, não é. À margem da sua natural propensão para agir como elefante em loja de porcelana, Santos Silva repetiu o que diz na academia, o que a OCDE reconhece e os números da produtividade e do crescimento confirmam. À volta de uma ilha de excelência, com gestores de classe mundial, há um mar de pequenos empresários que não gerem: subsistem.

Estudos internacionais fazem notar que a qualidade de gestão pode elevar em 30% a produtividade de uma economia. O INE concluía em 2018 que as empresas com práticas de gestão mais profissional conseguiam melhores vendas e produtividade. O problema nacional é que só uma pequena parte das empresas desenvolve essas práticas. Porque a maioria dos patrões revela baixíssimos índices de formação – 55% não têm sequer o ensino secundário, o que os põe na cauda da escolarização na Europa.

A falta de qualificações ou a preferência pelo primo ignorante em detrimento de um jovem qualificado explica o atraso, a inexistência de doutorados nas empresas ou os salários baixíssimos dos jovens licenciados.

É verdade que mesmo com estas condicionantes os empresários portugueses revelaram uma excepcional energia e competência durante os anos da troika. É verdade que vivem sob a égide de um governo e de uma elite política que suspeita por regra do lucro ou da iniciativa privada. É evidente que o patrocínio político que a corte exige ou a carga fiscal lhes infernizam a vida. Mas também é verdade que os seus atavismos e dificuldades são um problema que, até agora, só o Conselho Económico e Social procurou debater. Talvez o ministro ainda venha a reclamar os louros de ter reaberto esse debate essencial.

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