Nesta aldeia indiana plantam-se 111 árvores por cada menina que nasce

Nesta aldeia indiana — Piplantri, no estado do Rajastão, junto à fronteira com o Paquistão — sempre que nasce uma menina são plantadas 111 árvores. Celebrar o nascimento de um bebé do sexo feminino é incomum num país onde o sistema de dote coloca um peso financeiro sobre as famílias. É até frequente a indução da interrupção da gravidez quando a mãe descobre estar à espera de uma menina. Piplantri não era uma excepção na Índia no que toca a esta prática. Até 2006.

De acordo com a equipa do portal Great Big Story, foi a morte da filha adolescente do activista local Shyam Sunder Paliwal que deu origem a este ritual. “Ela significava muito para mim”, lamentou Shyam, em entrevista ao The Guardian, em 2018. “Como é que há pais capazes de matar meninas ainda dentro do ventre?” Foi o luto e indignação deste homem, líder da aldeia, que conduziu a uma revolução em Piplantri. Após o funeral da jovem Kira, Shyam plantou uma árvore. “A minha filha está aqui”, disse à mesma fonte, apontando para a sua Neolamarckia cadamba.

Mas não ficou por aqui. Shyam plantou muitas mais árvores — e incentivou todos os membros da aldeia a fazer o mesmo. Naquela zona semi-árida para onde, em 2015, durante um período de seca severa, o governo teve de enviar camiões-cisterna para abastecer a aldeia, foi necessário criar de raiz um sistema de rega para manter vivas as 350 mil árvores que entretanto foram plantadas. E o resultado é visível a partir do céu. Uma grande mancha verde destoa do resto da paisagem ocre. “Ao plantar árvores estou a fazer duas coisas: a mostrar alegria pela vinda de uma filha e a honrar a terra onde os meus antepassados viveram e morreram”, disse Shyam, que é hoje o feliz pai de quatro meninas.

O líder encontrou também uma solução para o peso dos dotes sobre as famílias ao criar um sistema de donativos que é accionado aquando do nascimento de cada menina, de forma a garantir que a família tem, como base de dote, cerca de 370 euros. “Isto garante às famílias alguma segurança financeira”, explica Shyam. “Em troca desta soma, as famílias responsabilizam-se por cuidar das árvores, deixar as meninas frequentar a escola e não permitir que se casem antes dos 18 anos, que é a idade legal.”