Mortos na estrada: não havia necessidade

A verdade é que eu não me conformo com o facto de morrerem quase duas pessoas por dia nas estradas portuguesas.

Vou levar várias desandas por estar a escrever sobre uma coisa que não é da minha especialidade, pelo que julgo que sei alguma coisa, em vez de escrever sobre assuntos da minha área, onde tenho a vantagem de saber que não sei nada.

Mas a verdade é que eu não me conformo com o facto de morrerem quase duas pessoas por dia nas estradas portuguesas. Além disso, para aproveitar este artigo e as descomposturas, falarei também dos engarrafamentos que marcam todos os dias as entradas e saídas dos centros urbanos. Estou convencido que seria também possível reduzir os danos que causam à economia e, sobretudo, à cabeça das pessoas.

É verdade que Portugal reduziu drasticamente as mortes na estrada nas últimas duas décadas. Para isso muito terá contribuído a nossa magnífica rede viária, tão vilipendiada pela opinião pública nacional e ainda agora confirmada como a quarta melhor da Europa.

Ora uma coisa que eu julgo saber, talvez por estar a falar de um assunto que não domino, é que o número de acidentes e respectivas consequências está relacionado com o ratio da percepção que as pessoas têm de que, se prevaricarem, serão apanhadas e punidas logo de seguida. E que quando esse ratio atinge um certo nível, os desastres e as mortes se reduzem radicalmente, como terá sido o caso na Suécia ou no Reino Unido. Ora esse ratio depende da fiscalização e da rapidez com que as punições são aplicadas, duas áreas onde não parece que em Portugal possamos estar satisfeitos.

Fiquei por isso animado quando, há uns meses, li a notícia de que se iam usar drones na fiscalização da estrada. É um modo expedito, e creio que não muito caro, de detectar violações das regras da estrada que, pelo factor de ser visto pelos automobilistas, deverá ter um efeito dissuasor eficaz. Além disso, creio que poderia ter um papel positivo para aliviar as horas de ponta, seja filmando pequenos acidentes e permitir quer os veículos envolvidos sigam o seu caminho, quer impondo velocidades obrigatórias ou a proibição de mudar de faixa ou outros meios a que se entenda recorrer para aliviar os engarrafamentos.

Surgiu agora um novo factor que estará a aumentar os desastres rodoviários e as mortes na estrada em toda a parte do mundo: os condutores a digitar e a ver imagens nos telemóveis. Há uns tempos, resolvi dar atenção a essa prática e, numa mera meia hora, vi, nas ruas de Lisboa, 17 condutores a praticá-la, completamente alheios ao que se passava à sua volta. Ora julgo que o mínimo que se exige a um condutor é que esteja a olhar para o percurso para onde vai e atento ao que sucede à sua volta. Esta violação verdadeiramente criminosa não pode ter outra punição que não seja a cassação definitiva da carta, como me dizem já sucede noutros países. Recentemente, no New South Wales, na Austrália, instalaram uma rede que detecta, dia e noite, a utilização de telemóveis pelos condutores. Na primeira semana forma apanhados 3000. Trata-se provavelmente de um sistema caro, mas também aqui se me afigura que os drones, pela sua flexibilidade, podem fazer um bom trabalho. Espero pois que em breve venham a ser utilizados entre nós.

Aproveito para me interrogar se as autoridades, que têm justamente manifestado preocupação com o aumento de atropelamentos nas cidades, não poderiam estar mais atentas ao modo como os peões atravessam as passadeiras, olhos postos nos telemóveis e sem cumprir a regra de olhar com atenção antes de atravessar, ou se não é possível fazer campanhas, por exemplo, para que se respeitem os semáforos, para que se respeite a prioridade à direita, que ninguém parece saber que é a regra nacional, ou para que os carros não andem na cidade à noite de máximos, etc., tudo factores que aumentam o risco de acidentes.

Poderão parecer pueris estas sugestões. Certamente os peritos terão outras e melhores soluções. Mas a qualidade de vida dos portugueses melhoraria se se desse mais atenção a estas questões, se os media lhes dedicassem mais espaços do que às farsas patéticas dos partidos uninominais e talvez o erário público e o SNS agradecessem. Talvez até um dia as operações dos feriados com mais movimento pudessem acabar com zero vítimas mortais.

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