Martín Sued: “Se a música cativa o ouvinte, isso para mim é tudo”

O bandoneonista argentino Martín Sued apresenta este domingo no Clube Ferroviário, em Lisboa (às 18h), o seu primeiro disco a solo, Iralidad, cartão de visita do seu génio criativo.

Foto
Martín Sued SARA JESUS PALMA

Compositor, arranjador e bandoneonista argentino, Martín Sued está a apresentar em Portugal o seu primeiro disco a solo. Este domingo, 22 de Dezembro, estará no Clube Ferroviário, em Lisboa (às 18h), depois de se ter apresentado no Outono em Jazz da Casa da Música e no Círculo de Jazz de Setúbal. Iralidad, com 11 temas (9 de sua autoria, um anónimo e um de L.A. Spinetta), tem por convidados Mono Fontana, ao piano, as cantoras Liliana Herrero e Silvia Iriondo (todos eles argentinos) e o violonista brasileiro (e gaúcho) Yamandú Costa.

Nascido em Buenos Aires em 1983, Martín iniciou-se na música cedo, mas na guitarra. Na família, não faltavam ligações à música. “O meu pai e a minha mãe são musicoterapeutas”, diz Martín ao PÚBLICO. Mas a música também lhe ia chegando através de outros familiares: “O meu tio, irmão do meu pai, é guitarrista clássico, foi o primeiro que me ensinou guitarra e registou-me para ingressar no conservatório. O meu avô, pai do meu pai, era comerciante de telhas, judeu sefardita e descendente de sírios; rezava de manhã, em hebreu, mas com melodias de música árabe, e quando eu ia a casa dos meus avós ouvia aquilo com atenção.”

Da guitarra ao bandonéon

Esteve no conservatório, onde aprendeu guitarra e teoria musical, mas ao fim de dois anos decidiu não continuar e dedicou-se ao bandoneón, de forma autodidacta. Já com a ideia de seguir carreira na música. “O meu primeiro trabalho foi tocar na rua, no Metro. Tinha uns 17, 18 anos, e só sabia dois tangos. Duas horas a tocar os mesmos dois tangos! Mas rendeu-me o meu primeiro salário.” Depois disso, tocou em algumas orquestras pequenas e num grupo de rock, Eppurse Muove, até que por fim ingressou na orquestra de tangos Fernández Fierro. “É uma orquestra bem conhecida na Argentina e com ela viajei pelo mundo, durante três anos.”

A par da orquestra, que lhe deu uma boa experiência em tocar música tradicional, formou em 2007 o quarteto Tatadios (que hoje é um quinteto), que já lançou dois discos. “Dos projectos que tenho na Argentina, este é o mais importante para mim”, diz Martín Sued. Mas há outros. Como o Chiche Trío, que Martín criou junto com Sergio Verdinelli e Juan Pablo di Leone, ou o duo Sued-Nikitoff, que editou um disco homónimo, ele e o guitarrista Leandro Nikitoff. “O Chiche Trío foi uma experiência com músicos incríveis, que eu admiro muito. Mas é um projecto para quando a gente se encontra, não é uma coisa obrigatória. Com Leandro Nikitoff fizemos um disco, ele tem a tradição da guitarra argentina. Há um bairro em Buenos Aires onde há encontros espontâneos de músicos, tocando e aprendendo repertório, que é a forma mais verdadeira de se aprender a linguagem da música popular. Conheci-o nesse contexto, ficámos amigos, moramos no mesmo bairro, La Boca, e montámos um repertório baseado na improvisação, sem arranjos escritos. Foi uma experiência muito linda, tocar com ele.”

Comunicação genuína

Nos últimos anos, Martín tem desenvolvido parcerias com músicos de diferentes países, como Guillermo Klein, Seamus Blake, Ben Monder, Miguel Zenon, Diego Schissi, Liliana Herrero, Silvia Iriondo, Daniel Binelli, Mono Fontana, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Yamandú Costa ou Zeca Pagodinho. “A certa altura, deixei de tocar tangos, não por uma decisão drástica, mas porque a minha curiosidade de fazer outras coisas era maior. Mas agora, até porque venho morar na Europa, voltei a sentir necessidade, para além de fazer as minhas coisas, de voltar a tocar a música tradicional argentina. Comecei a dar-lhe maior valor.”

O disco a solo de Martín Sued, Iralidad, actual cartão de visita do seu génio criativo, é visto por ele desta forma: “Para mim, este é o modo mais genuíno de me comunicar. Quando, num concerto, alguém me vem dizer que ficou emocionado porque teve alguma imagem, ou alguma lembrança ao ouvir-me, isso é muito importante. Porque a linguagem da música não é simbólica, de representação. E se a música cativa o ouvinte, isso para mim é tudo.”

Sugerir correcção
Comentar