Cartas ao director

Complexo de interioridade

O que seria de Madrid, grande capital europeia e mundial, e outras cidades à sua volta, se os espanhóis tivessem o complexo de interioridade que os portugueses parecem ter. Qualquer cidade portuguesa, a que chamamos interior, dista cerca de 100km do mar e, com as estradas que temos actualmente, a menos de uma hora de caminho. Pelo contrário, Madrid fica bem no centro da península e os seus habitantes não se incomodam com isso, apesar do seu clima mais agreste. Em Portugal, também por uma questão cultural, há tendência para desvalorizar, quer as pessoas quer o que é feito no dito interior. É comum ouvir-se com desdém: “se vier alguém de Freixo de Espada à Cinta…” Como se em Freixo não houvesse pessoas tão capazes como em outro lugar qualquer. A comunicação social também contribui para isso. Em programas televisivos, por exemplo, onde se debatem problemas entre o norte e o sul, por norma as questões que se colocam têm a ver apenas com Porto e Lisboa e com convidados das duas cidades, como se o norte fosse só o Porto e o sul só Lisboa.

Carlos Neves, Santa Maria da Feira

Serviço Nacional de Saúde

A ministra da Saúde anunciou a contratação de 8426 profissionais para o Serviço Nacional de Saúde, nos próximos dois anos. Em Agosto último, foi anunciada a contratação de 1442 profissionais para os hospitais do SNS (152 enfermeiros, 162 assistentes técnicos, 710 assistentes operacionais). Para que tais anúncios não sejam mera propaganda para deitar água na fervura das falhas e deficiências no SNS, quase diariamente badaladas na comunicação social, impõe-se a prestação de contas, a começar pela informação da concretização das admissões anunciadas em Agosto de 2019, com indicação do número de profissionais e unidades hospitalares onde tal se verificou.

Por outro lado, também é conveniente que seja fornecida informação do número de profissionais, que no mesmo espaço de tempo saíram, para se verificar o efectivo reforço de recursos humanos no Serviço Nacional de Saúde.

Ernesto Silva, V.N. Gaia

Costa, obviamente     

No diferendo que opõe Costa a Centeno, o meu apoio vai para o primeiro-ministro. Ao recusar cortes na coesão e criticando a política do Eurogrupo para a convergência, António Costa faz alarde da consciência social, que todos lhe reconhecem, e que parece nitidamente arredada de Mário Centeno. Enquanto o líder do PS surge aos olhos da opinião pública como o homem da “geringonça”, com o novo arco da governação, Centeno apresenta-se como da confiança dos alemães. Nunca chamariam o Ronaldo da Ecofin a quem tivesse uma política que colidisse com os seus interesses. É a esta luz que se deve compreender a possível continuidade de Centeno no Eurogrupo. Mas Portugal não é o Eurogrupo. O que é bom para este e não só pode não ser para nós. E Costa interpreta bem esta realidade. Opondo-se aos americanos e alemães, em passado recente, e agora a Centeno, dando passo importante para a esquerda votar o OE.

Simões Ilharco, Lisboa

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