Guimarães: Quarteirão devoluto vai ter habitação, comércio e possivelmente a universidade

Câmara Municipal aprovou um contrato que visa a urbanização de uma área desactivada na zona sul da cidade, com duas novas ruas, 17 lotes de habitação e um supermercado num horizonte de 10 anos. Antigas fábricas na envolvente vão ser demolidas, à excepção da do Arquinho, que pode acolher o futuro departamento de Engenharia Aeroespacial da Universidade do Minho.

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Quando se mira a cidade de Guimarães de sul para norte, a partir da Rua Eduardo Manuel de Almeida, vê-se, logo abaixo, um quarteirão com ervas a crescerem desordenadamente no miolo e fábricas em ruínas nas bordas, com algumas chaminés laranja ainda de pé. Essa área, com cerca de 66.500 metros quadrados, vai ser desbravada com novas ruas e novos edifícios de habitação e comércio na próxima década. É isso que está previsto no contrato de urbanização estabelecido pela Câmara Municipal de Guimarães, a imobiliária HJF, proprietária do terreno, e a sociedade Irmãdona, responsável pela cadeia espanhola de supermercados Mercadona em Portugal, aprovado na reunião de executivo municipal decorrida na última segunda-feira.

O documento, ao qual o PÚBLICO acedeu, revela a criação de três vias rodoviárias que vão delimitar as áreas onde vão surgir os novos edifícios. A por agora denominada Rua A vai atravessar o miolo do quarteirão, unindo a Rua da Caldeiroa, a norte, numa zona mais baixa, à Rua Eduardo Manuel de Almeida, a sul, com uma inclinação média de 12,5%. Já a Rua B será o prolongamento da Rua Cães de Pedra e vai unir a Rua do Colégio Militar, a oeste, à Avenida D. Afonso Henriques, morada do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), a leste, e a rua C uma ligação de sentido único entre a Rua A e a Avenida D. Afonso Henriques. 

Tais vias, disse, na segunda-feira, o vereador municipal para o urbanismo, Fernando Seara de Sá, podem ser construídas num “prazo de um ano ou de um ano e meio” a partir da assinatura do contrato e vão contribuir para a “reengenharia do trânsito automóvel” da cidade, permitindo o descongestionamento de algumas zonas.

“As ruas vão resolver alguns dos problemas na ligação entre o mercado municipal e a feira semanal, nas cotas mais baixas, e a estação de comboios, numa zona mais alta”, alegou, frisando que essas vias, arborizadas e pavimentadas em cubo de granito, com estacionamento automóvel lateral, pretendem conciliar o uso do automóvel com a mobilidade pedonal e ciclável.

Essas ligações vão também ser concretizadas tão rápido quanto possível para as outras entidades envolvidas na operação poderem avançar com os empreendimentos para ali previstos, na sequência dos pedidos de informação prévia apresentados à Câmara, esclareceu Seara de Sá. A Irmãdona vai dispor de um terreno de 7.500 metros quadrados a sudoeste para edificar um supermercado com 4.000 metros quadrados e implantar 200 lugares para estacionamento. O documento consultado pelo PÚBLICO estabelece que a construção, por se encontrar numa zona central, tem de ter “um carácter singular”, que se afaste da “imagem tipo dos supermercados” e “contribua para a valorização do local”.

O projecto contempla ainda a construção de 17 lotes de habitação. Parte dela terá custos controlados para os residentes, anunciou o presidente da Câmara de Guimarães, Domingos Bragança, à margem da reunião. “Haverá redução de taxas municipais caso sejam disponibilizadas rendas acessíveis para agregados familiares de rendimento moderado”, disse.

O novo implica, porém, o desaparecimento de imóveis já há muito tempo entranhados nos limites do quarteirão. Em frente ao CCVF, a Fábrica do Cavalinho, uma têxtil que funcionou até 1993, vai ser demolida para ligar a Avenida D. Afonso Henriques à nova urbe. Do outro lado do quarteirão, junto à Rua do Colégio Militar, o que resta da fábrica Jodimonte vai cair, mantendo-se a chaminé. A sul, outra têxtil, a Herculano & Pimenta, fundada em 1963 pela família que é proprietária do quarteirão, também vai desaparecer. “Algumas daquelas fábricas estão a funcionar como rolhas ao desenvolvimento da cidade. Ao serem retiradas, a cidade vai estar mais bem ligada”, observou o vereador municipal para o urbanismo.

Universidade no Arquinho?

Mas nem toda a urbanização do quarteirão vai ser feita por “substituição”, adiantou Seara de Sá. A norte, junto à Rua da Caldeiroa, a Fábrica do Arquinho, têxtil criada em 1913, por António José Pereira de Lima, que está hoje em ruínas, à excepção do seu portão, vai ser requalificada. “É a zona do quarteirão onde o testemunho da indústria é mais forte e mais pesado”, defendeu o vereador.

A Câmara vai pagar 1,5 milhões de euros para dispor do uso irrestrito do imóvel, mas o seu uso está ainda por definir, mas Domingos Bragança confirmou já ter falado com o presidente da Escola de Engenharia da Universidade do Minho, Pedro Arezes, sobre a possibilidade de ali instalar o futuro Departamento de Engenharia Aeroespacial da instituição. O espaço pode ainda receber uma outra plataforma associada àquela universidade, a Fibrenamics, que se dedica ao estudo das fibras e “precisa de um espaço maior” do que o que tem no campus de Azurém, também em Guimarães.

Além de servir de “monumento à história industrial” do concelho, o presidente da Câmara realçou também que o Arquinho pode funcionar como uma extensão do campus de Couros, não muito longe, que acolhe cursos de Design, Artes Visuais e Teatro.

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