Empresas prometem ajudar empregados a deixar o carro em casa

O Pacto de Mobilidade Empresarial de Lisboa foi assinado e prevê medidas concretas para os próximos dois anos. A câmara espera que ele tenha “um impacto imenso”, mas o desafio é que as acções não deixem ninguém de fora.

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Joana Freitas

Pagar o passe de transporte público aos trabalhadores, privilegiar fornecedores que usam veículos eléctricos, disponibilizar bicicletas para deslocações em serviço e reduzir lugares estacionamento. Meia centena de empresas que operam em Lisboa comprometem-se a adoptar estas e outras medidas nos próximos dois anos com o objectivo de descongestionar a cidade e melhorar o ambiente urbano.

Depois de vários meses de negociações, nasceu esta segunda-feira o primeiro Pacto de Mobilidade Empresarial de Lisboa, que na verdade corresponde a 57 pactos diferentes, tantos quantas as empresas que o assinaram. Cada uma definiu uma lista de acções que vai tomar a partir de agora e o grande foco está na maneira como os trabalhadores se deslocam até aos locais de trabalho.

Entre o leque de medidas há incentivos ao uso dos transportes públicos (como pagar passes e ter os horários afixados nos escritórios) e ao uso de bicicletas e plataformas de mobilidade partilhada (como instalar chuveiros e estacionamento próprios ou dar minutos gratuitos em carros ou motas). Mas há igualmente medidas para restringir o uso do carro próprio: reduzir o número de lugares de estacionamento para trabalhadores e começar a cobrar por isso são duas delas.

Este documento “não é só conversa”, garantiu o vereador da Mobilidade da Câmara de Lisboa durante a cerimónia de assinatura, no Museu da Carris. Miguel Gaspar disse que as 57 empresas subscritoras do pacto correspondem a apenas 0,05% do tecido empresarial lisboeta, mas que empregam cerca de 80 mil pessoas – qualquer coisa como “15% da força laboral da cidade”, acrescentou.

“Isto tem um impacto imenso, 80 mil pessoas é imenso”, sublinhou. Os discursos da cerimónia focaram-se sobretudo no impacto ambiental das medidas, mas o vereador disse também que um dos objectivos da autarquia é “usar melhor o espaço público”, libertando-o do que diz ser um excessivo peso do automóvel. “Às vezes a mobilidade é não viajar. Já imaginaram se uma pessoa ficasse a trabalhar em casa um dia por semana? Tínhamos logo menos 20% do trânsito.”

Miguel Gaspar disse ainda que “ninguém pode ficar para trás”, ou seja, que “todas as medidas devem abranger todos os trabalhadores”. Este é um dos maiores desafios do pacto: de que serve pagar o passe de transportes se não houver bons transportes?

“Este é, porventura, um dos momentos mais significativos na caminhada para tornar Lisboa numa cidade mais sustentável”, afirmou depois o presidente da câmara, Fernando Medina, sublinhando a necessidade de as empresas e as entidades públicas darem o exemplo. “Não podemos levantar só um problema. É nossa obrigação levantar problemas, mas também construir meios para os ultrapassar”, disse, referindo que o combate às alterações climáticas tem padecido com “a fragilidade das lideranças”.

Promovido pelo Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla inglesa), o documento inclui também medidas para fornecedores e clientes. Escolher empresas que façam entregas em bicicletas ou carros eléctricos, ter lugares de estacionamento para carros pouco poluentes e incluir informação sobre como chegar de transportes públicos no site são alguns passos a adoptar.

Na cerimónia, à qual muitos líderes empresariais chegaram de carro, Fernando Medina disse que a “agenda de mudança não é pacífica” porque “implica mudar os hábitos” enraizados. “A ambição de qualquer pessoa não é ter transporte colectivo, é ter lugar para estacionar o carro.”

Para João Wengorovius Meneses, secretário-geral do BCSD Portugal, este pacto é “uma parceria público-privada de sucesso” e deve ser levado “a outras geografias, a outras cidades do país” pois, disse, “a mudança de paradigma precisa de muitas destas medidas.”

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