“Vivemos tempos assustadores, é certo, mas não é nova essa sensação de fim dos tempos”

Ao longo de duas décadas de carreira, o escocês Alasdair Roberts tornou-se um músico folk indispensável, como o confirma The Fiery Margin. Ao segundo álbum, The Livelong Day, os irlandeses Lankum mergulham no coração da tradição para daí extraírem música assombrosa. A linguagem é diferente, mas o efeito é o mesmo: ambos capturam o espírito dos tempos de forma magistral

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Audrey Bizouerne

Wild Rover é uma canção tradicional irlandesa, e dela fizeram versões os Pogues ou os Chieftains, que corre o mundo como hino ao convívio folgazão entre o ébrio chocalhar de brindes. Assim o julgávamos, pelo menos. Porque Wild Rover, o Wild Rover que os Lankum tocam, dez minutos dele em lenta e assombrada passada fúnebre, não tem nada de celebratório – é sopro de uma alma penada, lamento de um homem que perdeu a vida no fundo do copo. Como canta Alasdair Roberts, cantautor, discreto mestre da folk escocesa de sussurro primevo e literata verve arcaica, “every song that nevermore sung/ will sound again upon the evernew tongue”. Está no seu novo álbum, The Fiery Margin, disco que, como sempre, nos interpela com a justa perspectiva do tempo — The evernew tongue foi inspirada num texto irlandês com mil anos em cima, quando o Homem já era Homem e tinha muito para evoluir mas, na verdade, pouco para aprender (“Learning is eternal”, diz outra canção).

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