Segurança que canta e dança

Uma personagem e a sua décalage face ao Portugal deprimido da classe média, ao Portugal falsamente eufórico do turismo.

,Festival Internacional de Cinema de Locarno 2019
Fotogaleria
Fotogaleria
,Festival Internacional de Cinema de Locarno 2019
Fotogaleria
,João Nicolau
Fotogaleria

As personagens de João Nicolau têm tendência a usar o imaginário como porta de saída para um quotidiano demasiado falho de imaginação. E os filmes de João Nicolau têm tendência a recompensar as personagens, conferindo ao imaginário delas um poder efectivamente transformador. As fronteiras entre a realidade quotidiana e a imaginação dissolvem-se, esta última imiscui-se na primeira, ensopa-a, modifica-lhe os contornos, até que o todo o cenário se transfigure. Era assim no filme anterior, John From, centrado em miúdas adolescentes de Telheiras que sonhavam com o amor e com a Polinésia; continua a ser assim, tanto quanto possível (ou verificando se ainda é possível ser assim), em Technoboss, que segue uma personagem numa extremidade da vida oposta à das protagonistas de John From: um velho e solitário vendedor de sistemas de segurança, a aproximar-se da idade da reforma e um tanto desadaptado ao mundo circundante (incluindo o mundo dos “sistemas de segurança”), tão empenhado na profissão como pouco entusiasmado com ela, e cuja cabeça vagueia entre o amor e, se não a Polinésia, as canções que lhe surgem no espírito e na voz, sobretudo quando vai ao volante no trajecto entre a casa e as encomendas.

Os leitores são a força e a vida do jornal

O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.
Sugerir correcção
Comentar