365 dias não chegam para o futebol e para as Taças da Liga

O excesso de jogos está a “matar” esta prova. Em Portugal, sem vaga europeia a atribuir via Taça da Liga, a competição continua a ser olhada com desdém. Em França já acabou e em Inglaterra já esteve mais longe disso.

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Pedro Proença e a Liga têm tentado dinamizar a Taça da Liga LUSA/PAULO NOVAIS

“Se não arranjarem uma boa data, uma data apropriada – não às três da manhã do dia de Natal –, então não vamos jogar”. As palavras são de Jurgen Klopp, referindo-se à próxima fase da Taça da Liga inglesa, numa posição que mostra que o futebol já não trata as Taças da Liga apenas com críticas, mas com ameaças. E isso, geralmente, seja em que quadrante da sociedade for, agiliza soluções.

Em causa está o excesso de jogos para o Liverpool. Na prática, não é, apenas, um excesso de jogos, mas chega mesmo a ser uma impossibilidade gregoriana, num ano civil que continua a ter apenas 365 dias.

O Liverpool vai jogar o Mundial de Clubes em Dezembro. Uma honra de campeão continental, que desencadeia um rol de problemas de calendário: é que a equipa inglesa – que já tem, pelo menos, sete jogos nesse mês – joga, também, a Liga interna, a Taça do país, a Liga dos Campeões e, claro, a menos carismática e habitualmente mais descartável Taça da Liga.

E é por aqui que pode passar a solução. Nesta quarta-feira, Klopp, fruto do excesso de jogos, ousou defrontar o Arsenal – e não uma equipa de um escalão inferior – com um “onze” com apenas dois habituais titulares. E sete dos 13 jogadores utilizados eram ilustres desconhecidos para o cidadão comum. O resultado foi... uma vitória. Ainda assim, o triunfo não foi um bálsamo tranquilizante para o habitualmente frontal Jurgen Klopp. E o alemão explodiu, apesar da vitória.

“Não vamos ser vítimas deste problema [excesso de jogos]. Jogámos na quarta e quisemos ganhar. Mas se não nos arranjarem uma data apropriada, então não poderemos jogar a próxima ronda e o nosso adversário, seja ele qual for, poderá avançar na prova. Ou então o Arsenal poderá jogá-la”, ameaçou Klopp, treinador de uma equipa que já tem um jogo da Liga inglesa por reagendar (frente ao West Ham, inicialmente previsto para Dezembro).

Um problema global

Não é apenas em Inglaterra que a Taça da Liga é “saco de pancada” na temática da sobrecarga de jogos. Klopp nunca se referiu à possível extinção da prova – ainda que tenha ameaçado o boicote à próxima ronda –, mas, noutros países, o fim da competição é uma realidade. Consumada, nuns, por consumar, noutros.

Em França, esta temporada é a última com Taça da Liga. Os responsáveis gauleses justificaram, em Setembro, a suspensão da prova, falando de motivos comerciais – a competição não é atraente na maioria dos países –, mas também de razões desportivas. “A suspensão da prova permite que as competições sejam suavizadas, dando mais tempo de recuperação aos jogadores, oferecendo, ainda, um lugar extra de qualificação europeia via campeonato”.

E este último é o ponto ideal de ligação à realidade portuguesa. Sem vaga europeia a atribuir via Taça da Liga, a prova, em Portugal, continua a ser olhada com desdém, não obstante os esforços da Liga na criação do formato “final four”, em quatro dias dedicados aos jogos decisivos da competição.

Os principais clubes – beneficiados nos sorteios, numa lógica de “arranjo” de final four com os três “grandes” – aproveitam para rodar o plantel. Um benefício para os treinadores, mas um suplício para os adeptos e, sobretudo, para os organizadores da prova, que continuam a ver estádios vazios.

O Benfica, sem se referir à extinção da Taça da Liga, já questionou a calendarização do futebol português, sobretudo criticando o quanto esta prejudica o desempenho europeu das principais equipas.

O Sp. Braga, por outro lado, já foi mais longe e apontou uma solução “à francesa”. “Se se verificar que essa competição perturba o normal andamento dos clubes que estão nos campeonatos e nas competições europeias, é evidente que é um assunto que tem de ser discutido. Se for melhor para o futebol português, quer para a competitividade nacional quer internacional, que se acabe com a Taça da Liga”, disse, em Outubro, o presidente da mesa da AG dos minhotos.

Em 2013, porém, os clubes tiveram na mão a possibilidade de acabarem com a Taça da Liga. À data, chumbaram a proposta de Mário Figueiredo, com 33 votos a favor da continuidade e sete a favor da extinção.

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