Papa decide sobre ordenação de homens casados na Amazónia até ao final do ano

Francisco prometeu ainda reactivar a comissão formada para estudar a possibilidade de as mulheres poderem exercer como diáconos, no final do sínodo dedicado à Amazónia.

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O Papa recebe uma oferenda na missa que encerrou o Sínodo da Amazónia, no Vaticano Remo Casilli/REUTERS

A decisão está agora nas mãos do Papa. Os bispos reunidos em Roma no sínodo dedicado à Amazónia votaram sábado favor da ordenação de homens casados, para suprir a falta de padres naquela região, e Francisco prometeu dar a sua resposta final antes do fim deste ano. Se, como é provável, o líder da Igreja Católica se pronunciar a favor da ordenação de homens casados naquela região que abrange nove países, “a mudança rapidamente se aplicará a várias partes do mundo”, segundo o padre e professor de filosofia Anselmo Borges. 

No “documento histórico” submetido à aprovação dos bispos, o 111º de um total de 120 pontos prevê que, em nome da diversidade da Igreja, sejam estabelecidos critérios e disposições que permitam a ordenação como sacerdotes de homens casados, desde que “idóneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham um diaconado permanente fecundo e recebam formação adequada para o presbiterado, podendo ter família legitimamente constituída e estável”.

Aprovada com 128 votos a favor e 41 contra, esta proposta, ainda que delimitada geograficamente, e que não deixa de apontar o celibato sacerdotal como um “dom” para a Igreja, vem alterar uma disciplina de séculos entre os mais de 1,3 mil milhões de católicos. “A Amazónia ‘toca’ nove países e a região vai servir de ‘laboratório’ de uma mudança que acabará por chegar a outras partes do mundo”, sustenta Anselmo Borges, para quem este sínodo é equiparável a um “mini-Vaticano II” para a Igreja Católica.

A proposta dedicada ao diaconado feminino, aprovada por 137 votos a favor e 30 contra, apela à partilha das conclusões a que chegou a comissão que o Papa criou, em 2016, para estudar a possibilidade de as mulheres poderem servir como diáconos e cujo relatório terá sido inconclusivo, apesar de como chegou a asseverar ao PÚBLICO a norte-americana Phyllis Zagano, que integrou a comissão a convite do Papa, ser inquestionável que houve mulheres a servir como diáconos na Igreja Católica “em diferentes lugares e em diferentes alturas”.

Na conferência de imprensa, considerando que a Igreja “ainda não compreendeu o significado das mulheres na Igreja”, Francisco anunciou que irá reactivar os trabalhos dessa comissão, não especificando, porém, se voltará ou não a chamar as mesmas pessoas nem quando é que isso poderá acontecer.

“Não me parece que nesta matéria a Igreja possa ir contra o Evangelho. Jesus teve discípulos e discípulas e foi nessa medida fermento para a emancipação feminina no mundo. Numa altura em que as mulheres estão nas empresas, nos governos e em lugares de decisão, a Igreja tem de lhes reconhecer o direito a ocuparem lugares de topo e de decisão, sob pena de cometer uma espécie de suicídio”, comentou Anselmo Borges, para quem neste sínodo a Igreja deu um passo de gigante no sentido da “desromanização”. “Até há pouco tempo tínhamos um cristianismo europeu que era exportado para os outros continentes e para outras culturas e este sínodo deixou clara esta necessidade de incorporar nos seus rituais a cultura dos locais em que se quer fazer presente”, sublinhou.

Entre as propostas aprovadas, surge a proposta de definição do “pecado ecológico”, descrito como uma “acção ou omissão contra Deus, contra a comunidade e o meio ambiente” e cuja definição se justifica por consubstanciar um pecado contra as gerações futuras e que se manifesta em actos e “hábitos de poluição e de destruição do planeta”.

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