Um Luxemburgo que já não é de goleadas e deve ser levado a sério

Fernando Santos destaca evolução de um adversário que já não pode ser visto como alvo fácil. Seleccionador recorreu a vídeo do jogo em que a Ucrânia tremeu para provar isso mesmo aos jogadores.

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LUSA/RODRIGO ANTUNES

Fernando Santos não tem ilusões. A modesta selecção do Luxemburgo, 93.ª do ranking FIFA, merece mais atenção e dedicação do que o nome da equipa nacional do Grã-Ducado possa eventualmente reclamar. Pode soar um pouco estranho, até a excesso de zelo, mas o “elogio” deixado pelo seleccionador português — e campeão europeu em título — faz todo o sentido, sobretudo para os mais avisados e atentos à evolução da equipa luxemburguesa… adversário que Portugal defrontará duas vezes no curto intervalo de um mês, na noite desta sexta-feira (19h45, RTP1) em Alvalade, e a 17 de Novembro no encerramento da fase de qualificação para o Campeonato da Europa de 2020, no Luxemburgo.

Fernando Santos nem precisa de uma retórica elaborada para reforçar o alerta que, pelo discurso dos jogadores, foi já perfeitamente assimilado. Para tanto, o engenheiro evoca o Luxemburgo-Ucrânia (1-2) de Março, em que o líder do Grupo B podia ter sido perfeitamente derrotado, não fosse o autogolo de Gerson Rodrigues (90+3’), azar que reforçou a “injustiça” de um resultado que Fernando Santos ainda não digeriu e que utiliza para salientar o real “valor desta equipa”.

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Uma valia que, na prática, supera a “reputação” de uma selecção de estrato inferior, uma equipa historicamente frágil, susceptível e atreita a goleadas. Visão que Luc Holtz, actual seleccionador, tem vindo a corrigir nos últimos nove anos.

Mas a campanha de sensibilização de Fernando Santos, dirigida a quem acredita em goleadas à moda antiga, não se limita a referir as virtudes dos luxemburgueses. Para alcançar o grande objectivo, precisa de convencer os próprios jogadores, pelo que se socorreu de um registo vídeo do mais recente Ucrânia-Luxemburgo, disputado em Junho, e decidido com um golo solitário, apontado aos seis minutos. Para vincar bem a posição assumida e as precauções necessárias para a abordagem a este encontro — que antecede a decisiva viagem de Portugal à Ucrânia —, o seleccionador português insiste nas dificuldades sentidas pela equipa de Andriy Shevchenko, “salva” por uma decisão de arbitragem (golo invalidado ao Luxemburgo) que suscita “muitas dúvidas” ao treinador português.

Mas quais são, afinal, os encantos deste Luxemburgo, penúltimo classificado do grupo, com metade dos pontos de Portugal e mais um encontro disputado (desempenho que, sem ser eloquente, é já um marco para o adversário de Portugal)? Que argumentos pode apresentar uma equipa do quarto escalão (D) da Liga das Nações, prova conquistada pela selecção lusitana? Fernando Santos deixou algumas pistas, destacando a “facilidade” com que os jogadores luxemburgueses “muito bem organizados” criam ocasiões de golo, o que potencia inevitáveis constrangimentos caso os campeões europeus não sejam capazes de actuar como uma verdadeira equipa. Um colectivo que não dependa das individualidades e que, sobretudo, seja capaz de corrigir o desempenho da primeira parte com a Lituânia, última classificada do grupo, com um ponto em cinco encontros.

“Portugal tem que mandar no jogo! Quando o faz, tudo fica mais fácil” adverte Fernando Santos, dando o exemplo do jogo na Sérvia (4-2), mostrando-se empenhado em apagar os tais 45 minutos iniciais do desafio de Vilnius, resolvido graças a um póquer de Cristiano Ronaldo.

O “astro” português, vindo “de outra galáxia”, forma encontrada por um amigo de Fernando Santos para descrever o “capitão” português, também depende de um dispositivo solidário para detonar qualquer muralha, embora este Luxemburgo combata a ideia de equipa de “chuto para a frente”.

No dia em que festejou o seu 65.º aniversário, Fernando Santos deixou claro  o que é preciso fazer para que possa celebrar os cinco anos de selecção sem surpresas ante um Luxemburgo dos tempos modernos, capaz de iludir um histórico de goleadas, lógica que tem vindo a inverter nos últimos três anos.

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