Tempos de cólera
Por todo o lado, cóleras institucionais e individuais. Raivas. Estes são tempos de cólera.
As violências que percorrem o planeta não cessam: não são “apenas” as guerras tradicionais ou as guerrilhas também elas tradicionais, acrescentando o delírio mortífero do ISIS e afins, como as tão eficazes guerras comerciais.
Os horrores de guerras e guerrilhas e a degola de inocentes são mais perceptíveis, mas as guerras comerciais não tanto, embora também sejam violentas, façam vítimas e possam redundar nas primeiras.
Tudo o que vai descrito radica nuns casos em ódios tradicionais, fundamentalismos religiosos, miséria, intolerância racial e de género, avidez, entre outros factores. Aliás, a avidez sobre matérias-primas explica, como sabemos, muitos e muitos conflitos. Ora, os recursos naturais vão diminuindo.
A indústria de guerra cresce com uma sofisticação nunca pensada (excepto em termos de ficção) e embargos, guerras comerciais, atingem na maioria inocentes por pura frieza de tantos dirigentes (os dirigentes que são embargados e aqueles que embargam).
Aqui é que não há inocentes.
As manifestações violentas sucedem-se em todo o planeta, em iras incontidas.
Campos de refugiados quase são ignorados, quando não maltratados. Milhões de pessoas são deixadas à sua sorte.
O ISIS procura países fragilizados para espalhar os seus tentáculos e os invadir, como sucede, por exemplo, com Moçambique.
Na Europa, não é só o “Brexit”, são também os radicalismos de direita e de esquerda, aliados, nalguns países, a uma fúria persecutória à independência da Justiça e aos media.
A Venezuela é conhecida pela violação sistemática dos direitos humanos, mas só agora vai ser objecto de um inquérito internacional a propósito dos ditos. A situação no Iémen, cujo conflito tem levado a mortes e tantas detenções, tem o Irão e a coligação comandada pela Arábia Saudita a apoiar cada um dos lados.
A crónica situação do Afeganistão.
Atentados que não escondem fanatismo, raiva, cobardia.
Haveria muitos outros exemplos, a que as instituições internacionais bem podiam acorrer. Mas as instituições internacionais enrolam-se mais na sua própria burocracia do que nos seus objectivos.
O acelerar das alterações climáticas (sempre as houve, é verdade, mas escusamos de ajudar em muito à festa). É certo que, na voracidade do dia-a-dia, as alterações climáticas não fazem parte das preocupações da maioria dos humanos. Basta ver, principalmente no dito Ocidente, na China, na América do Norte, o desperdício constante do alimentar à água.
O surgimento da inteligência artificial também não preocupa muitos, mas ela aí está e substituirá muito trabalho humano. O planeta, com a carga humana que o habita, não tem recursos para todos e a tendência agravar-se-á, com máquinas a substituir homens, podendo igualmente criar conflitos graves. Se a Ciência nos ajuda em muito, também é preciso olhá-la com precaução
O acesso ao trabalho está cada vez mais difícil e, se situações várias justificam indignação, não justificam violência.
Por todo o lado, cóleras institucionais e individuais. Raivas.
Estes são tempos de cólera.