Portugal no pódio das vendas em mercado de Verão com recordes

Nos últimos três meses, houve mais transferências e mais dinheiro do que nunca no futebol. Ainda assim, Inglaterra reduziu os gastos pela primeira vez desde 2010.

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LUSA/RODRIGO JIMENEZ

O mercado de transferências no futebol não dá sinais de abrandamento. A FIFA divulgou nesta sexta-feira um resumo da actividade negocial dos clubes entre 1 de Junho e 2 de Setembro deste ano e o documento permite concluir que os Big 5 (os cinco campeonatos mais ricos da Europa) continuam a impulsionar um fenómeno que atingiu, em 2019, valores-recorde, quer ao nível do total de jogadores envolvidos, quer ao nível dos montantes despendidos. Nesta balança que todos os anos oscila, Portugal continua a ter um peso significativo no prato das vendas.

O peso do mercado de Verão no bolo anual das transferências continua a ser esmagador. Neste ano, 184 das 211 movimentações registadas pelo Transfer Matching System (TMS) ocorreram neste período de três meses , com nada menos do que 8935 transferências concretizadas em todo o mundo, o que traduz um aumento de 4,8% face a 2018. No que respeita aos gastos, e ainda que a maioria dos negócios (81,5%) tenha sido livre de custos, essa subida foi de 9%, atingindo-se os 5,23 mil milhões de euros (se incluirmos nestas contas todas as transferências desde Janeiro, o montante dispara para o 6,60 mil milhões).

Como é habitual, os principais clientes nesta “feira” de compras e vendas foram as Ligas inglesa, espanhola, italiana, alemã e francesa. Por esta mesma ordem. Os Big 5, de resto, protagonizaram 1802 transferências neste período de Verão, mais 10,1% do que o registado no período homólogo de 2018, que resultaram num investimento de 3,96 mil milhões de euros (mais 8,3%). Em média, cada negócio fez-se por um valor a rondar os 6,3 milhões de euros.

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Fig. 2: compras com ou sem pagamento da transferência nos Big 5 Fig. 3: gastos com transferências dos Big no Verão Fig. 4: compras e vendas dos Big 5 FIFA

No fundo, foram 446 os clubes dos campeonatos mais ricos que fizeram, pelo menos, uma aquisição fora de portas, sendo que a média aponta para quatro contratações por clube, mais 10,1% do que o verificado há um ano. Este fluxo foi feito maioritariamente de jogadores livres de contrato (35%), sendo que os regressos de empréstimo representaram 22,1% do total. Não deixando de ser um valor significativo, o dos futebolistas livres para assinarem, nos Big 5 o fenómeno é bastante inferior ao do resto do mundo, que atinge os 64,2% do total. 

Inglaterra ainda no topo, mas a gastar menos

Na hierarquia dos gastos, não há alterações significativas. Mas se a posição de Inglaterra no topo da tabela continua a ser inquestionável (contratou 478 jogadores, mais 4,1% do que em 2018. gastando 1,23 mil milhões de euros), o certo é que houve lugar a uma diminuição de 7,5% dos gastos, a primeira quebra registada desde a introdução do TMS, ou seja, desde 2010.

Entre os britânicos, o mercado português não tem grande representatividade (fica fora do top 5 de entradas e saídas), ao contrário do que acontece em Espanha. Num mercado que gastou nada menos do que 1,06 mil milhões neste Verão (mais 20,4%), tem crescido a apetência para contratar além-fronteiras (mais 15,5%), sendo que na presente temporada o negócio de João Félix (126 milhões de euros) acabou por ser o mais impactante. O avançado ex-Benfica foi apenas uma das 32 “compras” feitas em território português (o terceiro maior exportador para Espanha), com 28 futebolistas a fazerem o percurso contrário (Portugal é o segundo maior comprador no país vizinho).

Itália ocupa o terceiro lugar em matéria de gastos (633 milhões, menos 11,5% que em 2018), mas o último posto nos encaixes financeiros. Isto porque completou apenas 264 vendas, que representaram 400,6 milhões de euros, ligeiramente menos do que a Alemanha (408,4) e bem abaixo de França (791,6 milhões). A Ligue 1, porém, foi o único campeonato dos Big 5 a apresentar um fluxo negativo da balança comercial: 305 milhões de euros, depois de um aumento no investimento na ordem dos 35,7%. 

Fora do núcleo duro do futebol europeu, o primeiro classificado do pelotão é a Rússia, que gastou 210,9 milhões de euros (uma subida vertiginosa, de 272%, face ao Verão anterior), seguida da Bélgica (150,8 milhões, mais 29,1%) e, finalmente, de Portugal (138,1 milhões, mais 74,3%). A verdadeira vocação do futebol português continua, de resto, a ser a exportação. Neste parâmetro, ao encaixar 418 milhões de euros em vendas, ultrapassou a Itália e a Alemanha, por exemplo, denotando uma subida de 61,1% relativamente a 2018.

Com o negócio milionário de João Félix à cabeça, os números portugueses foram também inflacionados pelas vendas dos passes de Éder Militão ao Real Madrid (50 milhões de euros), de Raul Jiménez ao Wolverhampton (38), de Raphinha ao Rennes (21) ou de Felipe ao Atlético Madrid (20), só para citar os exemplos de maior monta. Reunido o total de movimentaçãoes geradas pela I Liga, Portugal colocou-se no terceiro lugar da hierarquia das vendas. E quem sabe se, no final do ano, não conseguirá subir mais uma posição, igualando o feito de 2017 (645,4 milhões), quando só foi superado por Espanha. 

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