A França disse “au revoir” às estrelas possíveis dos EUA

Liderados por um enorme Rudy Gobbert, os franceses eliminaram a selecção norte-americana que se apresentou no Mundial de basquetebol sem muitos dos seus melhores jogadores.

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Momento do jogo entre a França e os EUA LUSA/KIM KYUNG-HOON / POOL

Já houve um tempo em que o basquetebol dos EUA ganhava a qualquer selecção do mundo sem ter um único jogador da Liga Norte-Americana de Basquetebol profissional (NBA), recorrendo apenas aos melhores universitários. Até 1992, o ano do “Dream Team”, foi quase sempre assim, com alguns (poucos) fracassos pelo meio, e depois disso, sempre com os profissionais, o Team USA foi quase sempre vencedor e apresentava-se no Mundial da China, não com as primeiras figuras, mas com um elenco de “estrelas” que parecia suficiente para fazer justiça ao seu incrível legado. Mas bateu de frente com uma grande França, essa sim com todos os seus melhores jogadores (da NBA e não só) e um plano de ataque seguido à risca

Os “bleus” seguem para as meias-finais, onde vão defrontar a Argentina, depois de um triunfo por 89-79, enquanto o Team USA vai disputar um impensável jogo de apuramento do quinto lugar frente a uma Sérvia que também desiludiu. O jogo dos quartos-de-final deste Mundial, que se está a disputar na China, marcou o fim de uma invencibilidade do Team USA em grandes competições (Mundiais e Jogos Olímpicos) e que já ia em 58 jogos – a última derrota fora nas meias-finais do Mundial de 2006, frente à Grécia. Depois desse desaire, os EUA conquistaram três títulos olímpicos consecutivos e estavam em busca do seu terceiro título mundial seguido. Era esse o objectivo da equipa técnica liderada pelo homem dos San Antonio Spurs Gregg Popovich, um dos melhores treinadores de sempre da NBA (e auxiliado por Steve Kerr, dos Warriors). Só que os problemas começaram muito antes do torneio (já lá vamos).

A relativa surpresa do apuramento da França para as meias-finais foi feita em partes iguais devido à falta de argumentos dos norte-americanos e de uma tremenda exibição dos gauleses, uma verdadeira selecção solidária e combativa, que teve sempre resposta para anular os melhores momentos dos EUA. Rudy Gobert, o gigante dos Utah Jazz (2,16m), foi um “monstro” nas duas tabelas, terminando com 21 pontos e 16 ressaltos, bem acompanhado por Evan Fournier, atirador dos Orlando Magic, com 22 pontos, e por Nando de Colo, um dos melhores da Euroliga, com 18. Importantíssimo foi também Frank Ntilikina, que ainda não se afirmou na NBA e nos Knicks, mas que teve dois cestos fundamentais para a reviravolta no marcador.

Depois de três primeiros quartos bastante equilibrados, os EUA chegaram a ter uma vantagem de sete pontos nos minutos iniciais do quarto período (74-67), muito graças ao acerto de Donovan Mitchell (29 pontos), mas um parcial de 15-2 dos franceses virou a tendência do jogo e os norte-americanos já não conseguiram responder. Para além de Mitchell, só mais dois jogadores norte-americanos chegaram aos dois dígitos nos pontos, Marcus Smart (11) e Kemba Walker (10). Mas não foi só no capítulo ofensivo que os norte-americanos se mostraram inferiores: os franceses conquistaram 44 ressaltos, contra apenas 28 dos EUA.

Esta foi a primeira vez que a França ganhou aos EUA numa grande competição de basquetebol, depois de nove derrotas nos encontros anteriores, repetindo a presença nas meias-finais do Mundial de 2014, em que seria eliminada pela Sérvia (triunfando depois no jogo do bronze sobre a Lituânia), conquistando, de caminho uma vaga nos Jogos Olímpicos. Já os EUA ficam de fora dos quatro primeiros apenas pela quarta vez em 18 edições do Mundial.

Sendo uma surpresa, esta eliminação do Team USA era uma forte possibilidade quando se começou a perceber que os melhores jogadores norte-americanos da NBA não iriam sacrificar as férias de Verão para jogar na selecção. Jogadores como James Harden, Damian Lillard, Bradley Beal e Anthony Davis rejeitaram a chamada, enquanto LeBron James, Steph Curry ou Kawhi Leonard devem ter feito constar que não valia a pena sequer serem chamados. E, assim, entre os 12 jogadores seleccionados, estavam apenas dois nomeados para o All-Star (Walker, dos Boston Celtics, e Kris Middleton, dos Milwaukee Bucks), num grupo com talento suficiente para chegar ao título, mas com pouco tempo de trabalho em conjunto – claro que jogadores como LeBron, Curry, Harden ou Kawhi chegavam e sobravam para disfarçar. Daqui a um ano, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, de certeza que este Team USA será bem diferente.

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