Direito Internacional Humanitário?

A intolerância para com o outro, a perseguição ao outro, deram sempre maus resultados. Assim começam as ditaduras, não é?

Não consigo largar o tema.

Confesso, obceca-me, até pelo contacto pessoal que com ele tive.

Vejamos exemplos do que vem acontecendo:

  1. Um raide anti-imigração no Mississippi separa crianças dos pais. Imaginemos as nossas crianças levadas para abrigos, por agentes secretos dos Serviços de Imigração dos Estados Unidos e apartados dos pais.

Passa-se num país dito democrático (já não bastava Guantânamo);

  1. A ONU revela que este ano mais de 156 trabalhadores humanitários foram atacados, entre eles, 57 mortos, 59 feridos e 40 raptados, ironicamente, revelação feita no Dia Mundial da Ajuda Humanitária;
  2. Migrantes a bordo do navio humanitário “Open Arms” atiraram-se ao mar na esperança de chegarem a Lampedusa, para além dos muitos outros que o navio transportou até ao cumprimento do Direito Internacional, por um Procurador italiano;
  3. O navio “Ocean Viking” resgatou 105 migrantes, só nas águas internacionais, ao largo da Líbia. E?;
  4. Duzentos migrantes tentaram escalar a cerca em Melilla. E?;
  5. Em Malta as autoridades recusaram a entrada de outro navio humanitário. E?;
  6. Dezenas de migrantes foram mortos na Líbia, numa semana, após o bombardeamento de um centro de detenção, seguido de um naufrágio com mais de 80 desaparecidos. E?;
  7. Centenas de pessoas foram objecto de processos crime sob a alegação de auxílio à imigração ilegal, quando afinal a sua actuação foi a de ajuda humanitária. Dá vómito. Quem não estenderia uma mão para salvar alguém que se afoga? Infelizmente bastantes;
  8. De que servem as declarações do Secretário-Geral da ONU de que os migrantes “merecem segurança e dignidade” ou que “precisamos de rotas seguras e legais para os migrantes e refugiados”, afirmando ainda sentir-se chocado. E?;
  9. A agência responsável pelas fronteiras externas da União Europeia, tem vindo a ser acusada de admitir abusos contra migrantes na Bélgica, na Hungria e na Grécia. A instituição, em comunicado, alega que não tem autoridade sobre o comportamento da polícia nas fronteiras locais. Não me parece: com os recursos humanos que detém e competências em matéria de identificação de migrantes no momento da chegada, para além de estar obrigada ao respeito das leis e tratados em matéria de Direitos Humanos, não há desculpa.

São só alguns exemplos.

Foram sábias as palavras do Chefe da Igreja Católica, ao afirmar que os migrantes são “o símbolo de todos os descartados da sociedade globalizada”, louvando ainda quem salva vidas no Mediterrâneo.

Ao contrário, quem se apropria de terços e símbolos religiosos, com propósitos bem opostos do que aqueles supostamente significam, é história conhecida e tem servido para as maiores bestialidades.

Infelizmente não é só no Mediterrâneo.

Existe, formalmente, um Direito Internacional Humanitário, mas o que se impõe é uma Consciência Internacional Humanitária.

E essa consciência cada vez existe menos, na voragem do egoísmo. Só que tudo isto gera uma escalada.

A intolerância para com o outro, a perseguição ao outro, deram sempre maus resultados. Assim começam as ditaduras, não é?

No que respeita ao auxílio humanitário, sempre o apoiarei. Prendam-me.

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