Cartas ao director

Senhores motoristas do SNMMP, façam outra greve já

Durante semanas discutiu-se a anunciada greve dos motoristas do SNMMP (apoiada pelo SIMM): antes, durante e agora, no pós-greve. Acho muito curioso (se não fosse preocupante, porque revela o nível da discussão entre nós) que o enfoque tenha sido saber que protagonistas ganharam ou perderam e se o Governo foi além do que devia para manter o funcionamento possível do país numa situação desta gravidade.

E (salvo lapso da minha parte, apesar de estar atento às notícias) acho lamentável que tanta sumidade não tenha discutido e posto aos responsáveis políticos um problema, que considero ser de vital importância: porque razão temos três grandes aeroportos (Porto; Lisboa e Faro) e apenas o primeiro tem um pipe-line desde a refinaria de Matosinhos? O de Lisboa é abastecido por camiões desde a CLC de Aveiras, a 21 km do Carregado, onde há um terminal ferroviário e esteve pensado um parque de combustíveis, mas podia ser também se por um pipe-line, que custa 10 milhões de euros: daqui, facilmente, comboios-cisterna alimentariam este aeroporto. Para o de Faro já há a possibilidade de transporte ferroviário desde Sines, que não é usada, apesar de cada comboio-cisterna evitar a circulação diária de 25 camiões entre Sines e o Algarve e poupar um milhão de quilómetros por ano de transporte rodoviário.

Até a frota de comboios a diesel da CP está, também, totalmente dependente do abastecimento rodoviário, embora a empresa tenha depósitos de combustível nas estações de Viana do Castelo, Contumil (Porto), Sernada do Vouga (Águeda), Régua, Entroncamento, Lisboa Santa Apolónia, Caldas da Rainha, Beja e Faro, que comboios-cisterna facilmente abasteceriam.

Quando existe o Ministério da Transição Energética, pergunto: transição para os camiões como meio de transporte de combustível? Será que estes já gastam ar, portanto, não poluem em tempo de descarbonização da economia e de aguda emergência ambiental em que vivemos? É caso para eu, cinicamente, pedir: senhores motoristas do SNMMP, do SIMM, da FECTRANS e outros, façam outra greve já, e, como prometeu o incendiário porta-voz do SNMMP, “se necessário, por dez anos”, para ser possível discutir também o essencial, em vez de a coisa se ficar pelo supérfluo.

Manuel Henrique Figueira, Palmela

Museu Salazar

Segundo o Conselho Internacional dos Museus, um museu é “uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe património material e imaterial da humanidade e do seu ambiente para permitir o estudo e o deleite da sociedade.”

Como é que o futuro Museu Oliveira Salazar corresponderá a esta definição se omitir que durante o Estado Novo havia prisões políticas onde se torturava, que pessoas foram enviadas para o exílio, que Salazar declarou luto nacional de oito dias pela morte de Hitler? Se não omitir estas e outras verdades, que deleite oferecerá ao visitante do museu? Caso não haja isenção na criação do novo museu não seria melhor construir uma fundação?

António Pereira

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