Maracanã recebe a final de Tite e de Ricardo Gareca

Brasil e Peru disputam esta noite no Rio de Janeiro a final da 46.ª edição da Copa América, um jogo marcado pela influência dos técnicos dos dois países.

Ricardo Gareca conseguiu levar o Peru à final da Copa América
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Ricardo Gareca conseguiu levar o Peru à final da Copa América Reuters/DIEGO VARA
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Tite Reuters/RICARDO MORAES
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Treino da selecção do Peru Reuters/HENRY ROMERO
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LUSA/PAULO WHITAKER

Ainda não se sabe se será antes ou durante o intervalo, como aconteceu na meia-final contra a Argentina disputada em Belo Horizonte, mas devidamente autorizado pela organização da 46.ª edição da Copa América, Jair Bolsonaro, provavelmente acompanhado pelo ministro Sérgio Moro, entrará esta noite no relvado do Maracanã, no jogo decisivo da principal competição de selecções da América do Sul. No entanto, apesar da busca pelos holofotes do presidente brasileiro, os grandes protagonistas da final da Copa América serão Tite, seleccionador do Brasil, e Ricardo Gareca, técnico argentino que lidera o Peru.

A 15 de Junho, depois de no jogo de abertura da 46.ª edição da Copa América o Brasil precisar de 50 minutos para desbloquear, no Morumbi, o primeiro problema na competição — triunfo por 3-0 contra a Bolívia —, a maioria dos adeptos brasileiros, que anseiam pela reconquista do trono na América do Sul desde 2007, terão ficado mais confiantes na presença da final do Maracanã, marcada para 23 dias depois.

Mesmo sem Neymar — que continua a parecer mais um problema do que uma solução na “canarinha” —, Coutinho, Firmino, Neres e Richarlison tinham mostrado um Brasil competente q.b. no ataque, mas o que começou a evidenciar-se foi a fiabilidade na defesa da baliza de Alisson.

Mesmo com duas pedras na engrenagem (empates com a Venezuela e Paraguai), o Brasil encontrou o seu ritmo e confirmou o crónico estatuto de favorito, reforçado pelo papel de anfitrião. E a meia-final contra Messi e companhia, em que os argentinos golearam em remates à baliza (14-4), mostrou a cara pragmática e competente que Tite tem tentado dar ao “escrete” desde que substituiu Dunga, em Junho de 2016.

E a solidez defensiva que se tem visto neste Brasil — a “canarinha” nunca tinha alcançado a final de um grande torneio oficial sem sofrer golos — tem a impressão digital de Tite bem marcada: com o actual seleccionador brasileiro, o Corinthians foi a equipa menos batida do Brasileirão de 2011, 2013 e 2015.

Ao contrário do que acontecia com regularidade no passado, onde o Brasil muitas vezes jogava bem, mas não ganhava, Tite colocou o “samba” para segundo plano e mesmo com críticas dos adversários — Basile, antigo seleccionador argentino, disse que o seu país perdeu para o “pior Brasil dos últimos 20 anos” —, tem o imprescindível apoio do balneário. “A vitória é para nosso staff, que vem apanhando muito”. Palavras de Dani Alves, poucos minutos depois de garantir o lugar na final.

Se do lado brasileiro Tite está a ter o mérito de tornar o Brasil mais fiável do que tem sido habitual nos últimos anos, do lado peruano a proeza de Ricardo Gareca nesta Copa América é ainda maior. Com um percurso como jogador relevante — jogou 20 vezes pela Argentina e marcou o golo que apurou a “albiceleste” para o Mundial de 1986 onde Maradona brilhou —, o técnico de Tapiales, nos arredores de Buenos Aires, tem tido uma carreira como treinador em crescendo. Gareca, de 61 anos, treinou clubes na Colômbia e no Peru, mas foi bem perto de onde nasceu, no Vélez Sarsfield, que começou a destacar-se ao mais alto nível, conquistando pelo clube da capital argentina o Torneio Clausura e Inicial.

Ao sucesso na Argentina seguiu-se um dos seus piores momentos — foi despedido menos de dois meses depois de assumir o comando do Palmeiras —, mas o fracasso no Brasil não travou a aposta da federação do Peru em Gareca. E os peruanos acertaram no jackpot.

Desde 2 de Março de 2015 no comando da “rojiblanca”, o argentino pegou numa selecção desacreditada que estava fora do top-50 da FIFA e conseguiu o 3.º lugar na Copa América desse ano. Em 2017, com seis vitórias e quatro empates em dez jogos, Gareca garantiu um lugar no Mundial da Rússia, onde somou duas derrotas (Dinamarca e França) e uma vitória (Austrália), garantindo o melhor ranking de sempre do Peru na FIFA: 18.º lugar.

Agora, em mais uma prova de competência, Gareca parece definitivamente lançado para voos mais altos e, aconteça o que acontecer esta noite no Maracanã, o destino de antigo avançado pode ser o comando da selecção do seu país. Porém, Juan Carlos Oblitas, dirigente da federação peruana, deixou claro nesta sexta-feira que não será fácil para os argentinos tirar Gareca do Peru: “Ricardo é um homem de princípios, é profissional. Tem contrato connosco até o final das eliminatórias [para o Mundial 2022] que serão ampliados se conseguir a classificação. Não há nenhuma cláusula que diga que se for chamado pela selecção argentina, pode ir.”

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