As campeãs do mundo contra as campeãs da Europa
EUA e Holanda defrontam-se neste domingo pelo título, em Lyon, num Mundial que fez crescer o perfil do futebol feminino. Mas ainda há uma tremenda desigualdade.
Não é um estatuto de ocasião, mas um estatuto legitimado pela história. Os EUA são e sempre foram a maior potência mundial do futebol feminino. Ganharam três Mundiais em sete possíveis (e nunca ficaram abaixo do terceiro lugar), foram quatro vezes medalha de ouro nos Jogos Olímpicos em seis edições (só uma vez falharam o pódio), ganharam oito vezes o torneio da CONCACAF em dez edições e, em 16 anos, nunca baixaram do segundo lugar no ranking FIFA. Por tudo isto, as mulheres norte-americanas, mais que habituadas a ganhar, são as grandes favoritas na final do Mundial 2019 que se realiza neste domingo, em Lyon, frente a uma Holanda que, não tendo um historial tão rico, se apresentou no torneio com o estatuto de campeã da Europa e que chega ao jogo do título logo à segunda presença na fase final do Mundial.
Será, então, a missão das holandesas travar a vitoriosa campanha das norte-americanas, que não perdem um jogo em fases finais do Mundial desde a final de 2011 perdida nos penáltis para o Japão.
A Holanda chega a esta final depois de ter eliminado dois campeões mundiais (Japão nos “oitavos” e Suécia nas “meias”) e batendo a Itália nos quartos-de-final. “Nunca pensámos que isto fosse possível. Mais um jogo e podemos ser campeãs. Vai ser difícil, mas será incrível se ganharmos”, disse Jackie Groenen, a média do Manchester United que marcou o golo no prolongamento do jogo das meias-finais frente às suecas. Um encontro em que a Holanda prolongou a sua série invencível em grandes competições para 12 jogos, um número que ajuda a demonstrar que não chegou a esta final propriamente por acaso.
Sendo a final de uma grande competição um jogo de natureza imprevisível, as norte-americanas vão entrar em campo com o peso do favoritismo teórico sustentado, não apenas por ser uma equipa que sempre esteve no topo, mas, sobretudo, porque chega a esta final às custas de uma tremenda capacidade competitiva perante adversárias difíceis – ganhou todas as suas eliminatórias por 2-1, afastando, sucessivamente, Espanha, França e Inglaterra. “Disse às jogadoras que este talvez tenha sido o percurso mais difícil que uma selecção teve de fazer numa competição deste nível”, admitiu Jill Ellis, a seleccionadora norte-americana.
Visibilidade renovada
Durante estas quatro semanas, o Mundial feminino tem sido um êxito global tremendo. Com o jogo da final, estima-se que a audiência total para todo o torneio ultrapasse os mil milhões de espectadores. O futebol feminino bateu recordes de audiência em vários países, como em França, o país organizador – o jogo dos “quartos” com os EUA, foi o programa mais visto do ano na televisão francesa, com uma audiência superior a dez milhões. E quem diz França, diz Itália, Brasil, Inglaterra e Holanda – o jogo da selecção holandesa contra o Japão, por exemplo, teve uma audiência nacional superior ao Portugal-Holanda da final da Liga das Nações.
Com o mundo a prestar mais atenção ao futebol feminino, Gianni Infantino, presidente da FIFA, apresentou várias propostas, incluindo aumentar o número de selecções participantes (de 24 para 32) e dobrar o prémio monetário para 53 milhões de euros. Mas este é um número incomparavelmente menor do que os prémios atribuídos no Mundial masculino (355 milhões) e, com toda a igualdade que a FIFA promove, não conseguiu explicar por que razão deixou que se marcasse a final da Copa América (que será entre o Brasil e o Peru) e da Gold Cup da CONCACAF (entre México e EUA) para o mesmo dia.
Palavra a Megan Rapinoe, que, mais uma vez, aproveitou para dizer o que pensa: “Isto é a final de um Mundial – tipo, cancelem tudo para este dia. Li algures que nem sequer pensaram nisso, e isso é um problema. [Sobre os prémios], claro que não é justo. Devíamos dobrar agora e dobrar da próxima vez, ou quadruplicar. Eu percebo que o futebol dos homens está financeiramente mais desenvolvido. Mas se realmente se importam, por que razão é que marcam três finais no mesmo dia?”