Cartas ao director

Prédio Coutinho 1

O leitor A. Carvalho (PÚBLICO, 1 de Julho) considera o prédio Coutinho de Viana do Castelo um exemplar de grande arquitectura moderna em Portugal. Poderá ser, se o abstrairmos da forma como se relaciona com a envolvente e com valores urbanísticos e paisagísticos pré-existentes. Considerados estes, a sua demolição é talvez justa. O que não parece justo, no plano urbanístico e territorial, é demolir esse edifício enquanto proliferam por todo o país, nos 20 anos que nos separam da decisão de demolição, atentados urbanísticos e territoriais de gravidade equivalente ou superior (...). Mas, no plano dos direitos individuais, o que me choca (...) é a forma como se tratam ser humanos da mesma forma como na guerra se faz um cerco, e violando todas as regras modernas de “humanização” da guerra: cortar luz e gás é uma táctica de cerco de guerra, mas cortar a água e limitar violentamente o abastecimento alimentar é arrepiante como violação à mais elementar consideração de humanidade. E parece ser aceitável à nossa democrática sociedade, na quase completa indiferença.

José Carlos Costa Marques, Águas Santas

Prédio Coutinho 2

Nas Cartas ao Director do PÚBLICO de 1 de Julho foi publicado um elogioso artigo sobre o chamado prédio Coutinho, em Viana do Castelo, e o seu projectista, arquitecto Coimbra de Brito. Importa no entanto compreender-se que os problemas suscitados actualmente sobre tal edifício nada têm a ver com a sua falta de qualidade em termos espaciais ou formais, portanto arquitectónicos, no sentido estrito do termo, mas tão só com questões urbanas ligadas à volumetria e ao sítio. (...) Não deve estar em causa a qualidade profissional de Coimbra de Brito e daquele seu projecto em particular, nem li em parte alguma que o tivessem feito. (...) Importa é contextualizar-se a época em que foi projectado, em que os conceitos e valorações das pré-existências, desenho urbano, paisagem e património edificado eram bem diferentes dos actuais.

José Silva Carvalho, Lisboa

A banalidade da greve

Enfermeiros e médicos fazem greve ao mesmo tempo. O que reivindicam os médicos? Que todos os portugueses tenham médico de família, redução das listas de utentes por cada médico, diminuição do tempo em serviço de urgência, poder optar por dedicação exclusiva no SNS, grelha salarial e melhoria dos incentivos para fixar clínicos em zonas carenciadas, entre uma vasta lista de exigências. O que reivindicam os enfermeiros? Descongelamento das progressões de todos os enfermeiros com 35 anos de serviço e 57 de idade para o acesso à reforma, medidas compensatórias do desgaste, risco e penosidade da profissão, compensações resultantes do trabalho por turnos (...). Médicos e enfermeiros não encontram outra maneira de “lutar por melhorar o Serviço Nacional de Saúde” – para além das suas (justas) reivindicações salariais – que não implique tomar os doentes por reféns? (...) E toda a gente se cala? Um dia vieram e fizeram greve aos doentes. Não me importei, não estava doente.

H. Carmona da Mota, Coimbra

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