Barricados na sua própria casa, sem água e sem gás. Resistem assim os últimos moradores do prédio Coutinho

Quem abandonar o prédio não volta a entrar. Só alguns funcionários camarários e o advogado de defesa podem entrar e sair.

Este morador, no quarto andar, recolhe comida com ajuda de uma corda e um saco plástico ADRIANO MIRANDA
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Este morador, no quarto andar, recolhe comida com ajuda de uma corda e um saco plástico ADRIANO MIRANDA

Barricados em apartamentos que lhes pertencem, é assim que estão os últimos moradores do Prédio Coutinho, em Viana do Castelo, resistem dentro do edifício, com a ameaça de que saindo não voltam a entrar. A VianaPolis tinha agendado o despejo para esta segunda-feira. Os 12 moradores que ainda lá estão continuam de pedra e cal como estão desde que há cerca de 20 anos altura em que ouviram os primeiros rumores de que o prédio seria demolido. Nos últimos dias, estão lá sem água, sem gás e com uma certeza – estão a ser “empurrados” para fora da sua propriedade por força de uma decisão para a qual não encontram “justificação”.

O perímetro de segurança está mais apertado do que nos últimos dias. Alguns polícias, acompanhados por seguranças privados, vedaram o acesso ao patamar de passagem para a entrada do prédio. Não é possível subir os poucos degraus que ali estão para chegar à entrada. Ninguém sai, mas há quem entre. Perguntamos a quem se prepara para o fazer, mas dizem-nos que ali estão apenas a “espreitar”. Pouco depois entram por uma das portas do Edifício Jardim. Não se percebe quem são.

Uma das poucas pessoas que tem acesso livre ao edifício é o advogado que defende os moradores, Magalhães Santana, ainda à espera de resposta quanto à providência cautelar interposta no Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga (TAFB), na segunda-feira, com o intuito de reverter as expropriações desejadas pela VianaPolis, necessárias para a demolição do Coutinho, sendo certo que a intimação para protecção das liberdades e garantias foi aceite esta terça-feira pelo órgão judicial. Ao fim da manhã desta quarta-feira, antes de falar aos jornalistas, ia reunir-se com os moradores. Com acesso ao local estão também alguns funcionários camarários.

As comunicações feitas para o interior são feitas via telemóvel. O PÚBLICO falou com o filho de um dos moradores, que está lá dentro com o seu pai, Agostinho Correia. Adianta que ao pai não é permitido sair do prédio para deslocar-se ao local de trabalho, próximo do edifício. Se sair já não volta a entrar. Dentro de casa estão com o essencial. O resto do recheio foram tirando quando souberam que havia a hipótese de serem despejados para acautelarem não perder bens de valor. Sobram “três garfos, umas peças de roupa e pouco mais”. Para fazerem as refeições contam com a ajuda de uma corda e um de um saco, que atiram da janela até ao nível do chão para a voltarem a içar com a comida.

Resistem no prédio, sobretudo, idosos. Há relatos de moradores que tiveram de abandonar o prédio por questões de saúde. De acordo com o que o PÚBLICO apurou, há quem ainda esteja no hospital. Outros saíram, tentaram voltar, e quando o fizeram encontraram uma fechadura nova na porta de entrada. Quem lá, ocasionalmente vai espreitando à janela.

Da casa de Agostinho Correia, que dias antes ameaçou atirar-se da janela se tivesse de abandonar o espaço, ainda sobra uma réstia de esperança. Nas ruas, à excepção da movimentação de jornalistas e alguns curiosos, não há mobilização popular. O Prédio Coutinho deu nas vistas em Viana do Castelo desde que foi construído e ao longo destas duas décadas desde que o programa Polis decidiu representar ruído na paisagem. Hoje, com os últimos moradores perto de serem despejados, parece passar despercebido aos olhos de quem passa mesma à sua frente.

Advogado e trabalhadores (funcionários da água, luz, gás e telecomunicações)  são os únicos autorizados a entrar e a sair do prédio
Advogado e trabalhadores (funcionários da água, luz, gás e telecomunicações) são os únicos autorizados a entrar e a sair do prédio ADRIANO MIRANDA
Foram contratados dois seguranças para abrir e fechar as portas do prédio, bem como deixar as pessoas autorizadas a entrar e sair do edifício
Foram contratados dois seguranças para abrir e fechar as portas do prédio, bem como deixar as pessoas autorizadas a entrar e sair do edifício ADRIANO MIRANDA
Moradores pedem a pessoas amigas para levarem os seus animais à rua
Moradores pedem a pessoas amigas para levarem os seus animais à rua ADRIANO MIRANDA
Se os moradores saírem do prédio, já não poderão voltar a entrar
Se os moradores saírem do prédio, já não poderão voltar a entrar ADRIANO MIRANDA
Moradores do prédio Coutinho estão a faltar ao trabalho. Na terça-feira, um casal saiu do edifício para trabalhar e quando regressou a fechadura da porta de casa foi mudada.
Moradores do prédio Coutinho estão a faltar ao trabalho. Na terça-feira, um casal saiu do edifício para trabalhar e quando regressou a fechadura da porta de casa foi mudada. ADRIANO MIRANDA
O advogado Magalhães Sant'Ana tem estado presente desde segunda-feira, dia da ordem de despejo, a acompanhar os últimos moradores do prédio Coutinho,O advogado Magalhães Sant'Ana tem estado presente desde segunda-feira, dia da ordem de despejo, a acompanhar os últimos moradores do prédio Coutinho
O advogado Magalhães Sant'Ana tem estado presente desde segunda-feira, dia da ordem de despejo, a acompanhar os últimos moradores do prédio Coutinho,O advogado Magalhães Sant'Ana tem estado presente desde segunda-feira, dia da ordem de despejo, a acompanhar os últimos moradores do prédio Coutinho ADRIANO MIRANDA
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