Comprar português ajuda-nos a todos

São nossos, de excelente qualidade e estão em foco na Feira Nacional de Agricultura. Os produtos “Portugal Sou Eu” são um exemplo do melhor que temos no país e optar por eles ajuda-nos a todos.

Fotogaleria
FNA 2019 Lionel Balteiro / La Mousse
Fotogaleria
FNA 2019 Lionel Balteiro / La Mousse
Fotogaleria
FNA 2019 Lionel Balteiro / La Mousse
Fotogaleria
FNA 2019 Lionel Balteiro / La Mousse
Fotogaleria
FNA 2019 Lionel Balteiro / La Mousse

É uma das feiras mais emblemáticas do país, verdadeira mostra de algumas das dimensões mais importantes da nossa identidade nacional: o que comemos, o que bebemos e o artesanato que fazemos. São estes os principais pilares da Feira Nacional de Agricultura (FNA19), cuja 56.ª edição decorre em Santarém até 16 de Junho, e que todos os anos atrai milhares de visitantes. O que vão ali fazer? Ao passarmos um dia inteiro no recinto da exposição a resposta surge-nos muito clara: celebrar o melhor que a terra nos dá e os excelentes produtos que nós, portugueses, todos os dias colocamos no mercado. Fica assim também óbvia a razão por que o programa Portugal Sou Eu aqui está representado, através de 40 empresas aderentes, oriundas do sector agroalimentar e de unidades produtivas artesanais.

A iniciativa governamental que se destina a incentivar o consumo de produtos portugueses não podia mesmo faltar à festa, tendo em conta que a maioria dos produtos (57%) que ostentam o selo identificativo “Portugal Sou Eu” são provenientes dos sectores da alimentação e bebidas e 23% correspondem a actividades artesanais.

Isto mesmo foi-nos dito no dia de inauguração do certame por Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), que reforçou a importância do “Portugal Sou Eu para o sector que representa: “Esta iniciativa traz muitas vantagens aos agricultores que têm produto acabado, é uma oportunidade de valorizar o seu produto e de colocar uma marcação que o consumidor identifica como um produto nacional.”(veja, em cima, a videorreportagem da inauguração)

Foto
Luís Mira, Secretário-geral da CAP Lionel Balteiro / La Mousse

O responsável admite o “bom feedback” que recebe das empresas aderentes, porque estas “reconhecem que desta forma o consumidor tem uma rápida ligação com o produto”. Fazendo coro com a apreciação global sobre o bom momento que o país atravessa, Luís Mira sublinha que “Portugal está na moda, os estrangeiros visitam-nos e gostam muito dos nossos produtos”. De tal forma é assim que não tem dúvidas em considerar que esse facto “levantou a auto-estima aos consumidores portugueses”, ajudando-os a ultrapassar o “quase complexo” que os levava a, no passado, “valorizar mais o que não era nosso”. “Hoje acho que estamos numa fase de transição e o consumidor moderno identifica-se e prefere o produto português”, refere.

Quanto ao balanço que faz do programa “Portugal Sou Eu”, mostra-se optimista, mas não descura a importância de o caminho continuar a ser trilhado com persistência: “É necessário valorizar os produtos portugueses e é necessário também que o Estado faça o seu papel e proteja esta marcação. Só assim conseguiremos, a médio e longo prazo, valorizar ainda mais o que é nosso.” Isto mesmo tem vindo a ser feito pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que inaugurou oficialmente a exposição, tendo visitado a zona de stands das empresas aderentes.

Balanço positivo

A avaliação positiva da iniciativa é partilhada pelo secretário de Estado da Defesa do Consumidor, João Torres, que marcou igualmente presença na inauguração da FNA19 – exposição que decorre em simultâneo com a 66.ª Feira do Ribatejo. Nas suas palavras, o sucesso percebe-se facilmente, na medida em que “hoje já há mais de 10 mil produtos, bens e serviços catalogados no âmbito do programa, a que corresponde um volume de negócios global superior a 12 mil milhões de euros”. Por isso mesmo, não hesita em revelar que “esta é uma aposta que naturalmente não deve ser desconsiderada por parte do Estado português”.

Foto
João Torres, Secretário de Estado da Defesa do Consumidor Lionel Balteiro / La Mousse

Da parte das empresas aderentes o agrado é idêntico, sendo este medido através de inquéritos frequentes, realça João Torres: “O índice de satisfação é muito positivo e os operadores económicos são por vezes os primeiros a reconhecer que a adesão ao programa tem vantagens muito significativas para a afirmação dos seus produtos, bens e serviços.”

Por seu turno, Luís Mira sublinha que a adesão ao “Portugal Sou Eu” “permite a participação em eventos como este a um custo muito reduzido”, sendo que “a adesão ao programa é simbólica, não é cara”. “Isto é muito atractivo para as pequenas e médias empresas que, de outra forma, nunca conseguiriam atingir este tipo de mercados e este tipo de exposições”, sintetiza.

Programa que dá visibilidade

Entre as muitas vantagens destaca-se sobretudo a visibilidade e a notoriedade que o selo “Portugal Sou Eu” proporciona. E isso percebemos nós, conversando directamente com quem está no terreno. Segundo José Silva, director da Quinta do Escudial, adega sedeada em Seia e presente na FNA19 a convite do programa, essa é mesmo a principal vantagem: “Coloca-nos no mercado, coloca-nos numa posição em que conseguimos mostrar aquilo que temos e isso é muito bom, porque muitas vezes temos dificuldade em encontrar eventos e formas de comunicar.” Nesse sentido, se não fosse o convite para estar presente na FNA19, nem sequer teria ido. Mas foi e as expectativas são “grandes”, como nos confessou, até porque o tema da feira deste ano é precisamente “A Vinha e o Vinho”.

A história da Quinta do Escudial é, aliás, uma bonita história de amor ao produto e resiliência de uma família. Ficámos a sabê-lo porque no stand estava também Maria Estefânia, mãe de José Silva, que nos contou como tudo começou há 17 anos: o pai morreu e deixou como herança uma quinta com três hectares e meio de vinha. Entre abandonar as uvas (que eram vendidas à adega cooperativa local a viver um mau momento económico) ou arregaçar as mangas e produzir vinho com marca própria, a escolha de Maria Estefânia e do marido recaiu na segunda opção. E mesmo sem perceberem nada de vinhos ao início – ela era professora aposentada e ele um engenheiro electrotécnico em fim de carreira – o casal não se amedrontou. Passaram para os sete hectares de vinha, contrataram um jovem enólogo, chamaram o filho mais novo e hoje produzem os vinhos Quinta do Escudial, que se impõem com o conceito de “vinhos sem madeira”.

Foto
Selo "Portugal Sou Eu" Lionel Balteiro / La Mousse

Credibilidade do selo

Quem também reconhece a relevância do programa “Portugal Sou Eu” é Maria João Gomes Mendes, sócia-gerente da Fio Dourado, empresa que produz o azeite Quinta do Juncal. De acordo com a professora, que se tornou produtora de azeite quando em 1991 herdou um lagar de prensas – “dos antigos, que depois fomos modernizando aos poucos” – é a “credibilidade do selo” que confere “uma visibilidade maior e que permite que o público, ao escolher, saiba que está a comprar um produto português”. Consciente das preocupações que actualmente muitos consumidores manifestam, aproveitou para deixar um aviso: “Leiam os rótulos com muita atenção, porque os aditivos são cada vez mais e as origens são cada vez mais estranhas.”

Ajudar a economia local

É precisamente porque a origem do produto é hoje um aspecto relevante na hora de fazer escolhas, que Diogo Maurício, director comercial da Gwiker – empresa especializada na produção de cogumelos Shiitake e na desidratação de frutas e vegetais - realça a importância da adesão ao “Portugal Sou Eu”. “O consumidor está mais atento e cada vez mais procura não só o produto nacional, mas também o produto local”. Por isso, considera que a plataforma do programa permite “a valorização do local e comunicar as histórias por trás dos projectos.” E a história da Gwiker - ou, pelo menos, aquilo que a empresa está a fazer na zona onde está implantada, em Porto de Mós - vale a pena ser divulgada: “Temos vindo a apostar em projectos de economia circular, ou seja, temos desenvolvido parcerias com os produtores locais para conseguirmos desidratar aquilo que eles têm como excedente de produção ou que, por ter pequeno calibre, não vai para o mercado dos frescos.” Como a empresa possui toda a tecnologia de secagem necessária - e que depende apenas de energia solar – têm vindo a criar “produtos alternativos”, como os risotos prontos a cozinhar e “feitos exclusivamente com legumes que iam para o lixo”.

Maria Estefânia e José Silva - Quinta do Escudial Lionel Balteiro / La Mousse
Venceslau Martins - Artesão Lionel Balteiro/La Mousse
Maria José Gomes Mendes – Quinta do Juncal Lionel Balteiro/La Mousse
Fotogaleria
Maria Estefânia e José Silva - Quinta do Escudial Lionel Balteiro / La Mousse

Mercado da saudade e não só

A identificação de um produto como sendo português garante a sua origem, mas quem o procura não habita necessariamente no país de Camões. Luís Henriques, director de produção da Mestre Henriques, empresa familiar de produção de enchidos e salsicharia de Rio Maior, fundada em 1978, garante-nos que “é uma mais-valia identificar o produto com origem portuguesa”. Tendo aderido ao “Portugal Sou Eu” há cerca de dois anos, o responsável da empresa na qual trabalha desde sempre – “aos 10 anos já estava no talho” – salienta a importância da certificação para os consumidores estrangeiros: “Também somos uma empresa exportadora e, para o mercado da saudade, é sempre bom identificar um produto como sendo português.”

É por essa razão também que o artesão Venceslau Martins, criador da marca XPTO, não prescinde de colocar em todas as peças que executa um selo “Portugal Sou Eu”. Capaz de recortar miraculosamente as figuras de famosos cantores em discos de vinil ou de outras caras conhecidas em candeeiros de metal, o artista diz que as suas peças “estão espalhadas por todo o mundo”. E todas vão com a garantia formal de serem um produto genuinamente português.

Celebrar o vinho e a vinha

Perto de todos os portugueses – na mesa, mais concretamente - está o tema escolhido pela organização da feira para este ano - “A Vinha e o Vinho”. O objectivo, segundo Luís Mira foi o de destacar “o sector agrícola que mais internacionalizado está”. Com efeito, as exportações deste sector ascendem a 750 milhões de euros, pelo que se compreende que os produtores “têm de ser competitivos no mundo inteiro e isso deu-lhes uma abertura e uma capacidade de resiliência muito grandes”.

O secretário-geral da CAP realça o facto de Portugal possuir a Denominação de Origem Protegida (DOP) mais antiga do mundo - a do Vinho do Porto – sendo que esta foi ainda considerada pela UNESCO, juntamente com a vinha da ilha do Pico, como paisagem património da humanidade.

Embora Portugal não seja o maior produtor de vinho no mundo, o responsável da CAP defende que “temos de competir na qualidade e na diferenciação que os nossos vinhos têm”, frisando o facto de dispormos de mais de duas centenas de castas. O programa “Portugal Sou Eu” associa-se, claro, à empreitada, integrando diferentes produtores de vinhos nacionais, ajudando-os no seu posicionamento no mercado e dando-lhes as armas necessárias para enfrentar a concorrência.