O Giro vai para a estrada: para muitos, a melhor das “grandes voltas”

A Volta a Itália começa a neste sábado, com um contra-relógio em Bolonha, e termina a 2 de Junho, com novo “crono”, em Verona. Há muitos candidatos e espectáculo (quase) garantido.

Foto
O pelotão no Giro 2018. LUSA/ALESSANDRO DI MEO

Egan Bernal e Alejandro Valverde vão ver de casa, Tom Dumoulin, Primoz Roglic e Simon Yates lutam na estrada. É esta a “fotografia” geral da Volta a Itália 2019, que arranca neste sábado, em Bolonha, com um contra-relógio.

Valverde e Bernal são baixas de última hora, por lesão, num Giro que já começou… feio. Estas ausências fazem emagrecer um lote de favoritos no qual ainda podem entrar Mikel Landa – correrá sem dividir com Valverde a liderança da Movistar –, Vicenzo Nibali – eterno candidato, vencedor em 2013 e 2016 –, Miguel Ángel López – pódio em 2018 e com uma grande Astana à sua volta – ou mesmo os outsiders Richard Carapaz e Domenico Pozzovivo (trabalharão para Landa e Nibali?), ambos top-10 no ano passado.

Para este ano, o percurso traz coisas “doces” e “amargas” para os trepadores. Por um lado, será um Giro cheio de montanha, com as etapas 12, 16, 17 e 20 exclusivas a homens “de barba rija”.

Por outro lado, existirão três contra-relógios que farão a “cabeça em água” a ciclistas como Mikel Landa ou Simon Yates, mesmo considerando a recente evolução do britânico nesta vertente. Nota: Yates leva, ao seu lado, Esteban Chaves e Mikel Nieve, um duo de gregários de luxo. Provavelmente, o melhor entre os candidatos à vitória.

Muita montanha e muito contra-relógio são outras palavras para dizer os nomes “Tom” e “Dumoulin”. Isto equivale a dizer que o holandês, sobretudo pelo tipo de percurso, parece ser o grande candidato a vestir rosa na última etapa, considerando que juntou valências nas montanhas às já conhecidas qualidades no contra-relógio.

Quererá repetir o triunfo de 2017 e vingar o segundo lugar de 2018, mesmo considerando o relativamente “silencioso” ano de 2019. E Dumoulin já deve estar a “salivar” pelo “crono” da etapa 9, que traz algumas subidas. Feito à medida do holandês.

Também Primoz Roglic está em situação semelhante. Em primeira análise, pelas características comuns com Dumoulin. Depois, porque “não há pai para Roglic”, já que o ex-saltador de ski, a fazer uma temporada tremenda, soma três triunfos em três provas por etapas disputadas em 2019: venceu a Volta aos Emirados Árabes Unidos, o Tirreno-Adriático e a Volta à Romandia, na qual bateu Rui Costa.

O principal problema, para Dumoulin e Roglic, pode ser a “falta de equipa”, já que é fácil imaginar o holandês e o esloveno sozinhos na luta das montanhas (os jovens Oomen, na Sunweb, e Laurens de Plus, na Jumbo, podem ser oásis em equipas que têm poucos nomes fortes).

Há, ainda, curiosidade para ver o que pode fazer a INEOS (ex-SKY). A equipa não leva a Itália Chris Froome (não defenderá o título) e Geraint Thomas, apostando numa liderança bicéfala e jovem: os “miúdos” Pavel Sivakov e Tao Geoghegan Hart são as apostas, sendo difícil prever uma vitória final a cair para a, ainda assim, sempre bem organizada INEOS.

Antes das lutas pela vitória final – que serão feitas, essencialmente, nas montanhas da última semana –, o palco será dado aos sprinters. A primeira semana da prova traz várias etapas planas, que “adoçam o apetite” a Elia Viviani, campeão italiano, que já soma quatro vitórias em 2019.

Para fazer sombra ao homem da casa deverão estar, sobretudo, o francês Arnaud Démare e os jovens Fernando Gaviria e Caleb Ewan. Também Pascal Ackerman, que conquistou três etapas na Volta ao Algarve, está de “pé quente”.

Na luta mais “aleatória” por etapas poderão estar os sempre perigosos e astutos Tony Gallopin, Thomas de Gendt, Tanel Kangert ou Diego Ulissi, sendo que uma desvantagem precoce na luta pela camisola rosa poderá permitir a homens como Rafal Majka, Bob Jungels, Bauke Mollema ou até Ilnur Zakarin darem espectáculo em vários tipos de etapa.

Para o público português, há Amaro Antunes. Depois da presença de José Gonçalves, em 2018, que resultou num grande 14.º lugar, a edição deste ano terá as esperanças nacionais focadas no algarvio que, pela equipa polaca da CCC, vai a Itália “revoltado”.

“Sinto uma ligeira revolta, porque não consegui treinar como pretendia, e acabo por saber que vou numa condição que não é aquela que desejaria”, disse, à Lusa, explicando que a recente lesão que sofreu o debilita fisicamente, mas não lhe diminui o entusiasmo. “Sinto-me super feliz por poder estar no início da corrida”, disparou Amaro Antunes, que se estreia nas “grandes voltas” e que assume planear uma “estratégia defensiva e de gestão de esforço”.

Para quem ainda não está convencido, fica um teaser final: com o domínio recente da SKY na Volta a França, muitas equipas se voltaram para o Giro. Isto significa que haverá plantéis fortes, um lote alargado de candidatos e quase uma mão cheia de equipas com dois potenciais vencedores na sua fileira.

A talhe de foice, podemos dizer, ainda, que esta corrida se tem tornado a mais espectacular das três “grandes voltas”, quer pela animação das etapas, quer pelas condições meteorológicas adversas que promovem surpresas e etapas imprevisíveis. Chega?

Sugerir correcção
Comentar