A voz

Há dez anos eu estava sentado à secretária em Londres quando deparei com um embrulho que me era destinado debaixo da secretária de um editor que trabalhava para a revista Granta, onde eu na altura era editor. Era um embrulho castanho e rectangular, reconheci a escrita, em estilo de notas ao acaso, do meu pai. O que é isto? A secretária do editor estava sempre uma confusão — eu não tinha problemas com isso, até que comecei também a viver em estado de caos. Trouxe o embrulho para a minha secretária e abri-o com uma faca. A última vez que vira o meu pai estávamos os dois de pé na sala de sua casa a norte do estado de Nova Iorque. Os médicos legistas tinham acabado de fechar a minha mãe dentro do saco e carregavam-na com cuidado para a sua última viagem de carro. 90 milhas por colinas e estreitos do Mohwak Valley até à Universidade de Syracuse onde cientistas iriam dissecar o seu cérebro para encontrar provas do Alzheimer que a tinha morto.

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