Amália e Vhils juntos na calçada portuguesa

O encontro do leitor José Alberto Santos em Alfama com a obra de Vhils que homenageia a fadista.

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Por vezes encontro aquilo que o Mundo me dá… Tentar conciliar a narração de uma viagem com a fascinante diversidade da mesma é um autêntico desafio a todos os nossos sentidos. Alexandre Manuel Dias Farto é um cidadão português nascido na alfacinha Lisboa no ano de 1987. Em 2008 concluiu os estudos universitários na University of the Arts na muito britânica brexit cidade de Londres. É um renomado grafitter português de street art conhecido no mundo da arte urbana por Vhils​. A sua veia artística consiste em esculpir rostos, por vezes com frases anexadas aos rostos, em paredes citadinas independentemente do seu estado de conservação. Tem trabalhos espalhados pelos quatro cantos do mundo e tem vindo a explorar novos caminhos dentro da ilustração e animação.

Amália da Piedade Rebordão Rodrigues, (1920, Lisboa – 1999, Lisboa), portuguesa, a rainha do Fado, cantiga urbana e vadia das tascas do povo de Lisboa, e pioneira do Fado canção, ficou conhecida para a lusitana história como Amália Rodrigues, a Voz de Portugal. Dizem as estatísticas que Amália tem mais de 170 álbuns de fados editados com o seu nome em cerca de 30 países. As mesmas dizem que vendeu mais de 30 milhões de cópias de discos. Quase três vezes mais que a população de Portugal.

Hoje encontrei-os “juntos”. Meio “arrelampado”, com o som do motor do Tuk-Tuk do Tiago Salazar, e pensando nisto e naquilo e naquilo e nisto, dizia eu, encontrei-os “juntos” em Lisboa, aqui para os lados de Alfama, na freguesia de Santa Maria Maior, mais propriamente no nº 62 da rua de S. Tomé. Num tapete de pedra, na calçada de Alfama, entre a rua de S. Tomé e a Calçada do Menino de Deus, está representado um mural com a efígie da icónica fadista desenhada por Vhils e que uma equipa da Escola de Calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa edificou.

De acordo com o que li e ouvi sobre esta obra de Vhils, esta obra de arte em calçada à portuguesa vertical é como uma onda de mar que começa no chão e vai subindo pela parede e que, segundo o seu autor, para quando chover faça “chorar as pedras da calçada”. Quando chove, a imagem de Amália “chora” como tantas vezes aconteceu quando Amália se emocionava a cantar o Fado em palcos de plateias silenciosas. Além de querer homenagear a cantora desta maneira, Vhils também pretendeu homenagear em simultâneo os calceteiros portugueses, esses sim os primeiros artistas urbanos portugueses.

Depois das fotos da praxe no local a Andreia e eu subimos novamente para o “autorriquexó” do Tiago e ao som do tuk-tuk-tuk-tuk do motor lá seguimos em boas mãos em direcção à Graça para mais uma viagem cultural pela nossa Lisboa menina e moça. Quando abandonamos o local fica dentro de nós um sentimento de algo que não queremos deixar cair no limbo das nossas memórias culturais.

Hoje por hoje com os sinais dos tempos as cidades mudam e por vezes até se reinventam. Por vezes as memórias culturais são tão súbitas e fugazes e não deixam vestígios. Parafraseando Eça, cultura não é saber muito nem ler muito, é conhecer muito. Tuk-tuk-tuk-tuk-tuk.

“Povo que lavas no rio, que talhas com o teu machado, as tábuas do meu caixão.”

(Retirado do Fado Povo que lavas no rio de Amália Rodrigues.)

José Alberto Silva dos Santos

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