Adeus Jacarta. Indonésia planeia mudar de capital

Excesso de concentração populacional e económica na ilha de Java leva o Presidente indonésio a propor transferir a capital para outra ilha do arquipélago.

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O trânsito em Jacarta, capital da Indonésia BEAWIHARTA/Reuters

Joko Widodo, o Presidente da Indonésia, quarto país mais populoso do mundo, quer mudar a capital, que actualmente é Jacarta, noticia a BBC, citando o ministro do Planeamento, Bambang Brodjonegoro. Apesar de ainda não estar definida a localização da nova capital, o objectivo é transferir a administração central para fora da ilha de Java, que está sobrepovoada.

“O Presidente optou por transferir a capital para fora de Java”, anunciou o ministro. Segundo Brodjonegoro, citado pela Reuters, a escolha pode recair na parte oriental do arquipélago.

Segundo o, o Presidente Widodo disse numa reunião estar empenhado em “pensar de forma visionária” o futuro da Indonésia e sublinhou que “transferir a capital requer uma preparação completa e detalhada”. O Ministério das Finanças foi encarregue de elaborar um plano de financiamento com a participação de investidores privados.

Citando exemplos como o Brasil (que transferiu a capital do Rio de Janeiro para Brasília) e o Cazaquistão (que mudou de Alma Ata para Astana, recentemente rebaptizada como Nursultan), o ministro disse que a mudança de capital será um processo que pode demorar uma década.

Paralisada e a afundar

A Indonésia tem cerca de 260 milhões de habitantes. É a quarta nação mais populosa do mundo, atrás da China, da Índa e dos Estados Unidos. Quase 60% da população vive na ilha de Java, o que implica uma concentração desproporcional das actividades económicas, factor que pesou na decisão de tirar a capital desta ilha, explicou Brodjonegoro.

Só Jacarta tem mais de dez milhões de habitantes, e cerca de três vezes mais pessoas moram nos seus arredores. Os problemas de trânsito representam um custo significativo para a economia. Um estudo de 2016 citado pela BBC indicava que Jacarta tinha o pior nível de congestionamento de trânsito do mundo, obrigando os membros do Governo a serem escoltados pela polícia para conseguirem chegar a horas às reuniões.

Para além do trânsito, de acordo com o Governo da Indonésia, Jacarta sofre de outros problemas, estando num terreno propenso a inundações e regista-se um progressivo afundamento dos terrenos em que a cidade está assente, resultante da excessiva extracção de água subterrânea. De acordo com investigadores citados pela BBC, várias partes de Jacarta podem ficar totalmente submersas até 2050 e metade do território já se encontra abaixo do nível do mar.

Bornéu na linha da frente

Segundo a agência estatal de notícias Antara, uma das cidades que pode acolher o Governo é Palangkaraya, em Kalimantan Central, na ilha de Bornéu, dividida entre a Indonésia e a Malásia. Mas ali os habitantes estão reticentes, tendo dito à BBC que a mudança pode trazer desenvolvimento económico, mas também ter efeitos negativos com o impacto ambiental e territorial de um acréscimo populacional.

O anúncio sobre a ideia de mudar a capital surge duas semanas depois de os resultados provisórios das eleições presidenciais na Indonésia terem dado a vitória, por grande margem, a Widodo que durante a campanha eleitoral prometeu adoptar medidas para combater a centralização económica. Os resultados oficiais das maiores eleições do mundo — 192 milhões os eleitores registados e 800 mil mesas de voto — são divulgados no dia 22 de Maio.

Ao longo das últimas duas décadas, a Indonésia tem vindo a descentralizar as funções administrativas, conferindo mais poder político e recursos financeiros aos municípios. A possível mudança da capital pode ser mais um passo no processo de descentralização.

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