Austrália quer matar dois milhões de gatos para salvar espécies nativas

Governo estima que os gatos selvagens trazidos para a ilha pelos colonizadores europeus matem mais de um milhão de aves e quase dois milhões de répteis por dia.

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Estima-se que exista uma população de dois a seis milhões de gatos selvagens na Austrália Paulo Pimenta

A Austrália elegeu o gato selvagem como o seu novo inimigo público. Até 2020, o Governo australiano pretende matar cerca de dois milhões de gatos vadios — uma fatia significativa de uma população de gatos de rua que se estima situar entre dois a seis milhões de animais.

No estado de Queensland, as autoridades locais já oferecem uma recompensa de oito euros por cada escalpe de gato selvagem entregue. A PETA, uma associação ambientalista, denuncia a medida como “cruel”, de acordo com a CNN.

Mas qual o motivo que leva o Governo australiano a querer matar um número tão grande de gatos selvagens? Presentes no território australiano desde o século XVII, trazidos pelos colonizadores europeus, estima-se que actualmente existam gatos em cerca 99,8% do território australiano. Os gatos selvagens são da mesma espécie dos gatos domésticos. Contudo, por viverem na natureza, desenvolveram um instinto de sobrevivência que os torna assassinos exímios de algumas espécies animais.

George Andrews, comissário nacional para a protecção de espécies ameaçadas, disse ao jornal australiano Sydney Morning Herald que, desde a introdução da espécie no país, os gatos selvagens contribuíram para a extinção de pelo menos 20 espécies de mamíferos, o que faz deles a maior ameaça actual para as espécies nativas australianas.

Citado pela CNN, um porta-voz do Departamento de Ambiente e Energia australiano afirmou que é possível que os gatos sejam a causa da morte de mais de um milhão de aves nativas e de 1,7 milhões de répteis por dia, no território australiano. Algumas das principais espécies ameaçadas por gatos selvagens são o Conilurus penicillatus, um roedor nativo classificado como vulnerável, e o Isoodon Auratus, outro mamífero roedor.

Andrews, em declarações ao diário australiano, explicou que a decisão tomada foi ponderada e que não é movida por qualquer ódio à espécie felina. “Temos de fazer escolhas para salvarmos os animais de que gostamos e que nos definem como nação”, acrescentou.

O Governo disponibilizou já uma verba de cinco milhões de dólares australianos para apoiar comunidades que consigam controlar a ameaça felina nas zonas rurais. Mas os planos têm sido alvo de críticas. Tim Doherty, um ecologista da Universidade de Deakin na Austrália reconhece que os gatos selvagens são um grande problema para as espécies nativas australianas, mas que a decisão de os eliminar é baseada em dados científicos pouco fiáveis, nomeadamente no que diz respeito à estimativa exacta da população felina da ilha.

Outro dos argumentos referidos pelo especialista para se opor à medida é que matar gatos de forma indiscriminada não salva uma ave ou um mamífero da morte por si só, apenas fazendo sentido se o gato habitar numa área em que existam animais ameaçados. As recompensas monetárias são igualmente alvo de críticas do académico, que considera que deverão ser restringidas a determinadas áreas.

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