O povo é sereno

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Leiam a reportagem do Luciano Alvarez nas páginas anteriores. É um retrato perfeito dos homens “de cornos rijos” que mostram um evidente prazer quase infantil quando percebem que podem parar um país. Ganham mal, demasiado mal para a responsabilidade que têm. Descobriram que é fácil, demasiado fácil parar Portugal. Como escreveu alguém, os governos gastaram rios de dinheiro a prever crises energéticas de electricidade e não se lembraram de que ela poderia acontecer por outra via. 

Aconteceu e apanhou toda a gente de surpresa, jornalistas incluídos. A inflexibilidade revelada até agora tanto pela Associação do sector como pelo sindicato que foi constituído há meia dúzia de meses é um péssimo sinal. Alguém tem que fazer de mediador a sério, já que isto é muito mais do que um conflito entre privados, como disse o primeiro-ministro. Obviamente, está em causa, mais do que o direito às férias da Páscoa com a família que vive longe - como constou do apelo do Presidente da República - o direito das populações a uma vida em segurança. 

Os responsáveis políticos acordaram tarde, como o resto do país, mas aparentemente estão agora a fazer o que deve ser feito. A decisão de racionar a gasolina e estabelecer uma rede de postos estratégicos por todo o país é aquela que melhor pode responder, nesta fase, à situação de emergência criada. 

Ficam por contabilizar os riscos para a economia desta greve montada por um sindicato que foi formado há pouquíssimo tempo, que orgulhosamente se diz afastado dos partidos e que embate de frente com o sindicalismo tradicional. Na realidade, a CGTP e o PCP sempre protegeram os portugueses (embora os portugueses nem sempre se tenham sentido agradecidos) com as suas reivindicações ordeiras e institucionais. 

Politicamente, os sindicalistas do jovem sindicato já conseguiram o que queriam em termos de visibilidade pública. Resta saber quando aceitam sentar-se com os patrões à mesa. A inflexibilidade também está do lado dos patrões. Lá está: falta um mediador, uma coisa que acontece nas negociações sindicais comuns. Falta saber se esta é uma negociação sindical comum, mas ainda não temos todos os dados em cima da mesa. 

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