Lagos quer afirmar-se como a “meca da vela com foils a nível mundial”

A cidade algarvia, que vai receber este ano o Mundial de GC32 e o Europeu de Moth, quer potenciar as “condições naturais excepcionais” da sua baía para criar “uma marca de referência como destino náutico”.

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Jesus Renedo

Para alguns desvirtua o espírito da vela, para outros é a evolução natural de um desporto no qual a tecnologia dita as regras e os barcos nas grandes competições internacionais são desenvolvidos como um Fórmula 1. Na nova era dos hydrofoils, a cidade de Lagos quer aproveitar as “condições naturais excepcionais” da sua baía para se afirmar como a “meca da vela com foils a nível mundial”. Falta, porém, construir um centro náutico, projecto que está a ser desenvolvido e que Hugo Pereira, vice-presidente da Câmara Municipal de Lagos (CML), gostava que fosse inaugurado no próximo ano.

É uma ligação com história, que remonta aos Descobrimentos quando Lagos era um dos principais portos de partida das expedições navais, e cinco séculos depois de as caravelas portuguesas zarparem pelo sul de Portugal, Lagos quer voltar a estar na vanguarda da vela. Com 10 quilómetros de baía protegidos da ondulação do oceano Atlântico por ventos predominantes de Norte e pelas Ponta da Piedade e Ponta João de Arens, Lagos reúne condições quase perfeitas para a prática de vela. Depois de, no ano passado, ter recebido uma etapa do GC32 Racing Tour, a cidade algarvia voltará a entrar este ano no mapa dos velozes catamarãs: entre 26 e 30 de Junho, vai receber o Mundial de GC32. Um mês antes, a baía de Lagos será palco do Europeu de Moth, uma das classes mais rápidas e tecnicamente exigentes da vela moderna. 

A aposta nas competições com foils (patilhões) permite, segundo Hugo Pereira, dar a Lagos “uma projecção enorme, que ultrapassa o mundo da vela” e ser um “farol para motivar os jovens que frequentam o clube de vela”, formando, assim, “grandes velejadores e campeões”. O autarca explica que “Lagos sempre procurou apostar na vela”, não descurando o ensino: “Apostamos nas escolas e nas actividades extracurriculares para desmistificar os medos do mar e fazer com que todos pratiquem vela. Há a ideia de que só pode fazer vela quem tem condições para ter um barco. Em Lagos tentamos que assim não seja.”

Porém, após a organização “da etapa do GC32 no ano passado ter superado todas as expectativas” e ter “permitido mostrar internacionalmente” que Lagos “tem condições para receber provas de topo mundial”, a cidade lacobrigense quer tornar-se um sítio obrigatório para receber a prova. “Sem descurar a formação, não temos receio em querer afirmar Lagos no mapa da vela mundial”, refere o autarca.

Com um investimento da CML em cada etapa do GC32 que “ronda os 50 mil euros”, Hugo Pereira não tem dúvidas em dizer que o “retorno supera amplamente esse número” e que o próximo objectivo da autarquia é “desenvolver as infraestruturas que darão um apoio suplementar”. “Falta um centro náutico com uma componente mais desportiva. O projecto está a ser desenvolvido e estamos à espera que a Docapesca e o Ministério do Mar autorizem a criação do equipamento dentro de uma zona que é de domínio público marítimo. Há muito que este projecto é falado. Gostávamos que ainda neste ano nos fosse destinado o lote de terreno e que o centro náutico fosse inaugurado em 2020.”

Martinho Fortunato, comodoro do Clube de Vela de Lagos e CEO da Marina de Lagos, concorda na urgência da construção do centro náutico para permitir que Lagos passe a ser “uma base de treinos para as equipas de topo no Inverno, período durante o qual na maior parte da Europa não é possível treinar”. Outro dos lamentos de Fortunato é a “falta de mais apoios financeiros”, originada pela “dificuldade em passar a mensagem do impacto que o turismo náutico tem na economia das cidades” junto de entidades como o Turismo do Algarve ou o Turismo de Portugal.

“Assisto a reuniões com organismos do Estado que consideram que o turismo náutico é a onda da Nazaré ou outros nichos, que são uma gota de água no que é a actividade à volta de uma marina ou cidade. Os eventos náuticos são essenciais para nos colocar no mapa e combater a sazonalidade. Felizmente, a Câmara [de Lagos] vê o impacto que isto provoca e tem feito um esforço. Com outros organismos, não tem acontecido isto. É um problema do sector”, lamenta.

Martinho Fortunato salienta que ao posicionar-se “na vela com foils, uma vela mais tecnológica”, Lagos atrai “equipas mais profissionais, com orçamentos mais elevados e patrocinadores de elevada qualidade” e “um turista premium”, colocando a cidade algarvia “ao nível de um Lago de Garda ou de Palma de Maiorca”. “Quando falamos dos GC32, falamos da banca suíça, da Norauto, de empresas de topo mundial. É onde queremos estar. Na hotelaria de quatro e cinco estrelas, com um cliente de valor acrescentado. Temos equipas que a primeira coisa que nos perguntam é onde podem aterrar o avião privado do dono. É aqui que queremos estar e queremos ser considerados a meca da vela com foils a nível mundial, onde podem estar baseadas as melhores equipas com as empresas de tecnologia que trabalham com eles”, conclui o CEO da Marina de Lagos.

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