PS diz que é “profundamente errado” nomear familiares

Secretária-geral adjunta do PS considera “evidente, óbvia e normal” a demissão de Armindo dos Santos Alves, primo do secretário de Estado do Ambiente.

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Ana Catarina Mendes considerou caso "relevante" Miguel Manso

“É profundamente errado e inadequado que um governante possa nomear um qualquer seu familiar”, afirma a secretária-geral adjunta do PS. Apesar disso, Ana Catarina Mendes não deixa de acusar a direita de protagonizar uma campanha “muito feia” em torno da existência de relações familiares no executivo. A socialista acusa mesmo o cabeça de lista do PSD às eleições europeias, Paulo Rangel, de levantar a questão para esconder que “é um dos eurodeputados que menos trabalho produz”.

Depois de a polémica ter estalado e se ter arrastado por vários dias, o executivo de António Costa acabaria por sofrer uma baixa: o Observador noticiou, na quarta-feira, que Armindo dos Santos Alves, primo do secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, pediu a demissão de adjunto do gabinete. A nomeação tinha sido feita por Carlos Martins em Setembro de 2016 e repetida em Novembro de 2018, o que significa que se ultrapassou uma linha definida pelo próprio primeiro-ministro, a de que um governante não pode nomear um familiar.

“Como, na semana passada, já tinha sido dito pelo próprio primeiro-ministro, é profundamente errado e inadequado que um governante possa nomear um qualquer seu familiar. Até ao dia de hoje não era isso que estava em cima da mesa e, por isso mesmo, a demissão do adjunto é uma coisa que me parece evidente, óbvia e normal”, afirmou Ana Catarina Mendes na SIC Notícias, na quarta-feira à noite, admitindo que é um caso “relevante” que teve as devidas “consequências”.

“Um governante ou qualquer pessoa que tenha responsabilidades públicas não deve, nem pode nomear um seu familiar. É evidente que é uma questão de bom senso e também de transparência das relações públicas”, repetiu, dedicando, porém, o resto do tempo a acusar a direita por não largar o assunto.

“Estas últimas semanas têm sido de uma campanha levantada pela direita, aliás, muito feia que revela duas coisas: a primeira é que não há projecto nem ideia política para o país e, portanto, vale a pena falar sobre estes temas; a segunda é evidente nesta campanha eleitoral sobre as europeias. É Paulo Rangel que levanta esta questão, talvez mesmo para se ignorar que é um dos eurodeputados que menos trabalho produz no Parlamento Europeu”, acusou Ana Catarina Mendes, acrescentando que “é uma campanha absolutamente de telenovela, que não devia existir”.

“Organização clientelar do Estado”

A socialista também não gostou de ouvir o antigo primeiro-ministro e Presidente da República, Cavaco Silva, dizer que “a prática de jobs for the boys é muito negativa para o país”. E, por isso, decidiu recomendar ao social-democrata a leitura d’ O Independente de 7 de Fevereiro de 1992, quando era o chefe do executivo. Na capa do jornal, que tantas dores de cabeça deu a Cavaco, lia-se: “Ministros e secretários de Estado empregam as mulheres no Governo”. “É uma investigação feita pelo doutor Paulo Portas [na altura, na direcção do jornal], em 1992, que revelava bem quais eram as escolhas do primeiro-ministro Cavaco Silva”, disse Ana Catarina Mendes.

À frente, tinha a centrista Cecília Meireles que, de forma irónica, considerou “inovadora” a ideia de que a polémica em torno da existência de relações familiares no Governo seja “uma teoria da conspiração da direita”.

Para Cecília Meireles, a regra de que não pode ser o governante a nomear o familiar não é suficiente: “Convém também que não haja nomeações cruzadas. Um nomeia o que tem parentesco com o outro, o outro nomeia o que tem parentesco com aquele”, afirmou, defendendo ainda ser “risível” ouvir o presidente do PS, Carlos César, falar sobre o tema, quando o socialista “é conhecido precisamente pela nomeação de parentes e afins quando estava no Governo Regional” dos Açores.

O tom entre a socialista e a centrista foi tenso e Ana Catarina Mendes aconselhou mesmo Cecília Meireles a ter “cuidado” com as declarações que fez, segundo as quais as práticas deste Governo denotam “uma organização clientelar do Estado, que deve ser combatida”.

“Naturalmente que as pessoas valem pelo seu mérito e não pelas relações familiares. E o facto de serem familiares de alguém não lhes retira o mérito. O que é estranho é que o PS só veja mérito num número determinado de famílias. Ou que veja tanto mérito num pequeno número de famílias. Isto é que denota uma organização clientelar do Estado, que deve ser combatida. Seja do PS, seja de que partido for”, declarou Cecília Meireles. 

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