Godín, o herói improvável que se tornou “rei” de Uruguai

O outrora jovem n.º 10, tecnicista e pouco trabalhador, tornou-se num defesa de topo e no jogador mais internacional de sempre pelo seu país.

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Godín é capitão do Atlético Madrid e da selecção uruguaia. Reuters/Jason Cairnduff

Diego Godín tornou-se nesta segunda-feira, no embate frente à Tailândia (vitória por 4-0), no jogador mais internacional de sempre pelo Uruguai. Aos 33 anos, o agora “rei” das internacionalizações, com 126 jogos pela selecção, destronou Maxi Pereira e cunhou, mais ainda, o estatuto de herói.

Não é hipérbole dizer que Godín leva uma vida de heroísmo. Começou aos quatro anos, quando, num passeio com a irmã, em Rosário, caiu a um riacho. A corrente levou o jovem Diego, que gritava por não saber nadar. Mas aprendeu. Ali mesmo. “Foi um milagre. Estava com botas e roupas de Inverno. Mas consegui agitar os braços, de uma forma que nem consigo lembrar-me, e salvei a minha vida”, recordou, na sua biografia, contando que chegou a receber medalhas como atleta de… natação.

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Anos depois, já focado no futebol, teve de encarnar, novamente, a pele de herói. E, mais uma vez, em nome da própria “sobrevivência”. Primeiro, para se “salvar” de um colega mais velho, que o tratava mal: um dia, esperou por ele à porta da sala e, de surpresa, deu-lhe um murro no nariz. Fim do bullying.

Mais tarde, aceitando mudar: depois de ter sido dispensado do Defensor Sporting, o então jovem e “preguiçoso” médio ofensivo baixou a exigência e foi “caçado” pelo modesto CA Cerro, a troco de qualquer coisa como 25 euros. Aí, teve de aceitar o recuo para o meio-campo e, depois, para a defesa. Foi nessa posição que acabou por dar provas de que merecia o contrato, “saltando” para o “gigante” Nacional.

Já em Espanha, depois de ter convencido o Villarreal a comprá-lo ao Nacional, Godín começou a história no futebol europeu. Em 12 temporadas de Liga espanhola, foi sempre um dos centrais titulares da equipa, como comprova a média de 42 jogos realizados por temporada.

Pelo meio, já depois de duas Ligas Europa, uma Liga espanhola e duas finais da Champions, voltou a ser herói. Porque Godín não se liberta dessa sina. Lesionou-se aos 64 minutos de um jogo frente ao Athletic Bilbau, sentindo o músculo a rasgar. Tirou a braçadeira de capitão, para ser substituído, mas o problema é que já não havia substituições disponíveis para Diego Simeone. Godín decidiu ficar em campo, de músculo rasgado. Cerca de meia-hora de jogo. “Cá fora, não podia fazer nada e lá dentro, mesmo parado, podia ser que ajudasse um pouco”, explicou, após o jogo.

Mal Godín sabia o que o esperava quando tomou a decisão de ficar em campo. Já em período de compensação, foi ao uruguaio, em sofrimento há meia-hora, que coube o heroísmo de fazer o golo da vitória do Atlético. 

O outrora jovem n.º 10, tecnicista e pouco trabalhador, tornou-se herói do Uruguai e capitão do Atlético Madrid como um defesa-central mais agressivo e simplificador. E Godín é isto: luta, esforço, dedicação e queda para o heroísmo.

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