Militares e oposição reclamam vitória na Tailândia, mas resultados definitivos só em Maio

O partido de apoio à junta militar conseguiu o maior número de votos, mas a oposição elegeu mais deputados. Ambos querem formar Governo.

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O primeiro-ministro Prayuth Chan-ocha, líder da junta militar Athit Perawongmetha/REUTERS
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Sudarat Keyuraphan, a candidata a primeira-ministra do maior partido da oposição Soe Zeya Tun/REUTERS

Vários adiamentos, resultados contraditórios e muito poucos esclarecimentos estão a envolver as eleições tailandesas num clima de confusão e suspeitas.

Nesta segunda-feira, os dois principais partidos mostraram disponibilidade para formar um Governo de coligação, embora os resultados finais ainda não tenham sido revelados na sua totalidade.

Inicialmente, esperava-se que os resultados fossem anunciados ainda no domingo à noite, mas a comissão eleitoral adiou a divulgação para esta segunda-feira. Citando demoras na avaliação de queixas sobre o processo eleitoral, as autoridades decidiram adiar uma vez mais o anúncio dos resultados finais, só que para 9 de Maio.

Os resultados revelados até ao momento permitem concluir que nenhum partido alcançou uma vitória expressiva. O Palang Pracha Rath, o partido que representa a junta militar no poder, ficou bem acima das expectativas e alcançou quase oito milhões de votos. No entanto, o Pheu Thai, o principal partido de oposição aos militares, dos irmãos Shinawatra, garantiu um número superior de lugares no Parlamento.

Entre os 500 lugares na câmara baixa, o Pheu Thai conseguiu eleger 138 deputados, enquanto os militares ocupam 96 assentos. Por apurar estão ainda 150 lugares. Outros partidos mais pequenos conseguiram eleger entre 30 e 39 deputados.

Negociações

Os dois partidos reivindicaram a vitória nas eleições e anunciaram estar já em negociações para formar uma coligação de Governo. “Temos o maior número de votos e, de acordo com a Constituição tailandesa, quem tiver o maior número de votos deverá formar Governo”, disse o secretário-geral do Palang Pracha Rath, Sonthirat Sonjirawong.

A interpretação do partido rival, ligado ao ex-primeiro-ministro no exílio, Thaksin Shinawatra, é oposta. “O partido com mais deputados é aquele que recebeu a confiança do povo para formar Governo”, afirmou o líder do Pheu Thai, Sudarat Keyuraphan, citado pelo The Guardian.

Há quase cinco anos que a Tailândia é governada por uma junta militar que derrubou o Governo do Pheu Thai, liderado pela irmã de Thaksin, Yingluck Shinawatra, depois de meses de protestos de rua. Desde então, os militares escreveram e aprovaram uma nova Constituição que lhes garante de forma quase certa a permanência no poder, mesmo após as eleições.

Para formar Governo, é necessário o apoio de pelo menos metade dos 750 parlamentares (500 no Parlamento e 250 no Senado). Como a câmara alta foi escolhida pela junta militar, o seu partido precisava apenas de eleger 126 deputados para governar sem necessitar de negociar uma coligação.

Os problemas na divulgação dos resultados vieram aprofundar ainda mais o clima de suspeita sobre a validade das eleições. Vários círculos eleitorais apresentaram resultados inconsistentes, e num deles o número de votos contabilizados foi superior ao número de eleitores registados. Cerca de 1500 votos enviados da Nova Zelândia não foram sequer contabilizados, diz o Guardian.

Thaksin, num artigo de opinião publicado no New York Times, disse que este é “um momento terrível e triste” para o país e acusou os militares de quererem manter-se no poder a qualquer custo. “Mesmo que os líderes da junta permitam agora que os partidos pró-democracia formem um Governo, eles irão encontrar formas de continuarem a mandar. Eles não têm vergonha, e querem manter-se no poder aconteça o que acontecer”, afirmou.

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