Shevchenko, o símbolo que se transformou em salvador

Sem ter qualquer experiência como treinador, o antigo goleador do Milan avançou para o cargo de seleccionador ucraniano e não se tem dado mal.

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Shevchenko, de goleador a seleccionador LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

Andriy Shevchenko cumpre nesta sexta-feira, frente a Portugal, o 24.º encontro como seleccionador da Ucrânia, cargo que assumiu em meados de Julho de 2016, na sequência do descalabro ucraniano no França 2016, onde Portugal conquistou o título de campeão europeu. Apesar de não possuir qualquer tipo de experiência enquanto treinador principal — pois assumira o papel de adjunto de Fomenko antes do último Europeu, quando foi designado para suceder ao chefe de equipa —, Shevchenko apresenta uma interessante folha de 23 encontros (nove dos quais de carácter particular), em que soma 12 vitórias, seis empates e cinco derrotas. Números bem diferentes das 111 internacionalizações e 48 golos como jogador.

Mesmo assim, ao longo de uma carreira repleta de conquistas enquanto um dos mais temíveis avançados — a Champions de 2003 e Bola de Ouro de 2004 são exemplos flagrantes — “Sheva” conviveu com mestres como Lobanovskyi (Dínamo Kiev), Ancelotti (Milan) e José Mourinho (Chelsea), referências importantes para lançar as bases de uma carreira que, apesar do falhanço na qualificação para o Rússia 2018 (suplantado por Islândia e Croácia), promete consolidar-se com a promoção da Ucrânia à elite europeia, na Liga das Nações A.

De resto, exceptuando a goleada averbada em Trnava, ante a Eslováquia (4-1), em Novembro de 2018, a última derrota da Ucrânia em partidas oficiais ocorreu em Outubro de 2017, em Kiev, frente à Croácia (0-2), adversário que assim garantiu uma vaga nos play-off... rumo à final do Mundial da Rússia. Croácia que, aliás, infligira, ao sexto jogo de Shevchenko ao leme da Ucrânia, a primeira derrota da carreira do actual seleccionador, de 42 anos.

Na posse de todos estes dados, Fernando Santos já avisou que Portugal é favorito, preparando uma master-class que Shevchenko poderá usar no futuro. Por enquanto, o desafio é garantir uma vaga no primeiro Europeu “patrocinado” por 12 cidades de diferentes países. E Shevchenko não pretende facilitar. Mesmo tendo como possível álibi o regresso de Cristiano Ronaldo à selecção portuguesa, o seleccionador — também ele uma lenda — já deixou claro, com a exclusão do defesa Rakitskiy (trocou o Shakhtar pelos russos do Zenit, sem medir as consequências face à tensão entre os dois países), que não encara a nova fase da carreira de ânimo leve.

Independentemente do estatuto de herói nacional que o catapultou para o cargo de seleccionador/salvador, Shevchenko conviveu de perto com o “fracasso” ao ser considerado um flop no Chelsea de Mourinho, emblema que pagou pelo ucraniano 35 milhões de euros ao Milan, em 2006. Shevchenko não disporá de muito tempo para rever Mourinho ou Rui Costa, dos tempos de Milão, mas não deixará de constituir um obstáculo.

“Portugal é o campeão europeu, uma selecção muito forte, reforçada com o regresso de Ronaldo, um dos melhores do mundo, e que como os últimos jogos demonstraram, está em grande forma. Respeito-o muito. Não é apenas um jogador: é um líder, um símbolo e só vem reforçar ainda mais a selecção portuguesa”, destacou na conferência em que colocou a pressão nos ombros dos campeões em título.

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