Liga pede que admissão de bebidas alcoólicas nos estádios seja incluída na lei

Pedro Proença garantiu, na Assembleia da República, que o organismo não é movido por interesses comerciais. Bancadas sem cadeiras para as claques foi outra das medidas propostas.

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Pedro Proença afirma que venda de bebidas alcoólicas ajudará a completar lei LUSA/MIGUEL A. LOPES

Para a Liga não há volta a dar: entre as medidas que a entidade desportiva considera fundamentais, conta-se a venda e consumo de bebidas alcoólicas nos estádios portugueses. Foi isso que Pedro Proença assumiu nesta quarta-feira ao início da tarde no Parlamento, numa audição do grupo de trabalho do Desporto no âmbito da discussão da proposta do Governo sobre o novo regime jurídico do combate à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos. Na parte da manhã, GNR e PSP tinham-se mostrado contra a ideia de trazer de volta bebidas alcoólicas aos recintos desportivos por questões de segurança.

O presidente da Liga Portugal garantiu que a entidade desportiva “não é movida por interesses comerciais”, explicando que a posição do organismo que tutela o futebol profissional se prende com a protecção dos adeptos: “[A Liga defende] a possibilidade de venda de bebidas alcoólicas de forma a prevenir o consumo de bebidas alcoólicas​ excessivo no exterior do estádio”. 

Pedro Proença fez menção a alguns países europeus que permitem aos adeptos o consumo deste tipo de bebidas de baixo teor alcoólico (cerveja e cidra) no interior dos recintos desportivos. “ [A Liga é movida por] exemplos de sucesso em outras competições, onde são reduzidos os níveis de alcoolemia dos adeptos”, fundamenta o presidente da Liga. 

O ex-árbitro internacional esteve acompanhado, na sessão, pelos representantes de quatro clubes: Estoril, Sp. Braga, FC Porto e Benfica. José Pinheiro, dos “arsenalistas”, garante ver nos jogos de maior risco “multidões” concentradas nos espaços comerciais presentes no exterior do estádio. “Duas ou três horas antes do jogo concentram-se sempre multidões em roulottes​. Consomem bebidas brancas que, só depois de entrarem no recinto, começam a fazer efeito.” O representante do Sp. Braga defendeu ainda a criação de fan zones nos recintos desportivos onde essas bebidas poderiam ser comercializadas e consumidas.

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UEFA permitiu, a partir desta temporada, bebidas alcoólicas nas competições europeias Paul Hackett / Reuters

Do lado do Benfica, Rui Pereira, chefe de segurança, apresentou argumentos semelhantes aos de José Pinheiro, reforçando as vantagens ao nível da segurança de todos os que frequentam os recintos desportivos: “Parece-me não haver um estudo consistente que prove que o álcool provoque maior propensão para a violência. Tem muito a ver com o perfil dos adeptos e nem tanto com a bebida em si. Os adeptos de risco aparecem todos 15 minutos antes à porta de entrada [o que dificulta as revistas]. Se isto fosse prejudicial à segurança, a UEFA não tinha permitido este ano a venda de bebidas alcoólicas nas competições europeias”.

Claques de pé. uma ideia que reúne unanimidade

Outro dos pontos que a Liga e os clubes presentes na audição tentaram passar para os deputados diz respeito à possibilidade de criação de bancadas, reservadas aos grupos organizados de adeptos, sem cadeiras. “A realidade deles é estarem de pé e a hipótese de estarem sem cadeiras é uma mais-valia. Fazê-los sentar é impossível”, afirmou Damásio Teixeira, do FC Porto. Do lado do Estoril, Luís Silva partilha dessa opinião, considerando que as safe standing zones seriam importantes, visto que as cadeiras servem, muitas vezes, “para partir”. 

Na Alemanha, bancadas sem cadeiras e consumo de bebidas alcoólicas nos estádios são uma realidade e foi, precisamente, um dos exemplos de sucesso usado pela Liga e pelos clubes para sustentarem as suas ideias. Nas declarações finais, Pedro Proença agradeceu aos deputados por não terem rejeitado à partida as ideias apresentadas, dizendo que, no caso das bebidas alcoólicas e como tinha sido sugerido pelo grupo parlamentar do Partido Socialista, “jogos experimentais” poderiam ser um passo importante para reverter uma proibição que remonta a 1980. 

O cumprimento da apresentação às autoridades em dia de jogo para os indivíduos condenados por incidentes violentos nos estádios e a previsão legal do Oficial de Ligação aos Adeptos (elemento que faz a ponte entre grupos organizados e clube) completaram as quatro propostas apresentadas pela Liga para a alteração à lei. 

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