Um Dia dos Namorados de todas as cores

Vamos fazer do Dia dos Namorados o dia de todos os namorados e de todas as namoradas, de todos os casais, sejam eles hetero, homo, bi, transgénero.

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Para quando o Dia de Todos os Namorados lá na escola? Para quando o fim deste medo, para quando o princípio do amor entre o Pedro e a Ana, mas também entre o Mário e o Husain, entre a Mary e a Raquel, o Carlos e o João, o Abdul e o Rahim, a Li e a Wang, a Teresa e a Patrícia?

Se os nomes são fictícios, as vidas não são. O amor é proibido na adolescência, a não ser se entre um rapaz e uma rapariga, e apesar da roda dos tempos não parar de girar, para muitos pais a homossexualidade na adolescência ainda é um tema tabu.

Para muitos adolescentes, revelar a sua orientação sexual a quem mais gostam ainda é o maior passo. Pelo medo. Pela rejeição de quem lhes está mais próximo, ou não fosse a mãe começar a chorar, a irmã começar a rir e o pai sem dizer nada, o pai nunca disse nada, nem vai dizer diante da coragem adolescente de quem quer ser livre, para amar. 

Os pais, desfeitos, vêm muitas vezes à escola perguntar-nos onde foi o erro, se na falta de educação, se na falta de disciplina, mas um pai não erra, nunca erra a não ser na rejeição e a marca fica para sempre.

Por isso, e porque me cansa a ignorância, a discriminação, o sem número de adolescentes sem amor e sem tecto a viver às escondidas, culpados por não mentirem, vítimas da verdade a atear incêndios nas mãos, nos braços e punhos erguidos, porque me cansa a revolta num mundo farto de andar às voltas mas incapaz de se reconhecer, diverso, diferente, tudo menos heteronormativo, vamos fazer do Dia dos Namorados o dia de todos os namorados e de todas as namoradas, de todos os casais, sejam eles hetero, homo, bi, transgénero. Um dia de todas as cores, dentro da escola e fora da escola, em casa e no quintal, nas ruas e praças, na praia, nos parques, nas cidades e vilas, país a país, mundo a mundo. Vamos trazer mais mundos ao mundo e celebrar o amor tal como ele é, pessoal e transmissível, como a rádio, radioactivo, contagiante numa terra sem géneros, só cor, e celebrar o amor como uma rima, uma bandeira multicolor onde cabe toda a humanidade, diferente, única, desigual, sexual, da nascença à morte, movida pelo desejo, pela paixão e Freud tinha razão.

E quem são os nossos pais para nos dizer o que, e como, desejar quando o desejo já nasce connosco, está lá, sempre, o trovão constante enquanto o Rui, ainda hoje o vejo, se levanta a meio da sala de aula e dá um beijo ao Samuel. O Samuel é negro, o Samuel teve de fugir de casa dos pais e a última vez que soube dele estava em Espanha.

Mas a tempestade é constante e mais forte, porquê negar quando se pode afirmar, porquê reprimir quando se pode voar, nem que por uma vez só, um dia por ano que seja, nos braços um do outro, sem que ninguém maldiga, sem paus, pedras ou palavras, apenas uma bandeira e todas as cores do mundo no pátio da escola.

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