Fortalezas da raia: uma rota para atrair turismo e celebrar a paz em antigos palcos de guerra

Projecto envolve as fortalezas de Valença, Almeida e de Elvas e o Castelo de Marvão, estruturas com um papel activo durante a Guerra da Restauração, com Espanha, no século XVII. O investimento total de quase 450.000 euros, co-financiado pelo Turismo de Portugal, destina-se à rota, mas também à educação patrimonial.

Foto
Lara Jacinto / Publico

Reunidas desde 2016 na candidatura conjunta das suas fortalezas a Património Mundial da UNESCO, as autarquias de Valença, Almeida, Marvão e Elvas vão dar mais um passo para valorizar, em bloco, esse património material dos seus territórios. Edificadas na guerra que se seguiu à restauração da independência para com Espanha, em 1640, as antigas estruturas militares dos quatro concelhos vão ser incluídas numa rota turística que ambiciona, sobretudo, uma permanência mais longa em Portugal de quem faz turismo na raia – a fronteira de 1.316 quilómetros entre Portugal e Espanha tem 63 fortificações abaluartadas, em ambos os países.

O Turismo de Portugal aprovou a candidatura intermunicipal ao Valorizar, programa de apoio ao interior criado em 2017, e vai investir 270.000 euros dos 300.000 necessários à criação do roteiro – os restantes 30.000 cabem aos municípios. Na cerimónia de assinatura do contrato de financiamento, decorrida, na terça-feira, em Valença, o presidente da autarquia minhota salientou que a Rota das Fortalezas Abaluartadas da Raia vai criar um “destino turístico de excelência” num “espaço outrora conflituoso”, mas hoje marcado pela convivência pacífica. “A gente raiana criou relações humanas fortes, misturando costumes, tradições, língua e cultura até ao ponto de esta ser considerada da paz mais bonita do mundo”, realçou Jorge Mendes, na companhia dos presidentes de Câmara dos restantes concelhos – António Machado, de Almeida, Luís Vitorino, de Marvão, e Nuno Mocinha, de Elvas.

O projecto, apresentado na terça-feira e consultado pelo PÚBLICO, visa a transformação de antigos edifícios militares – um de cada fortaleza - em centros interpretativos com “harmonização dos conteúdos e da comunicação” sob uma única marca. Para aumentar o tempo de permanência dos visitantes, reduzir a sazonalidade e de criar empregos directos e indirectos, a nova rota contempla ainda a implementação de uma “programação concertada” e de um sistema de bilhética integrado.

No documento, os municípios referem, porém, que a valorização turística das fortalezas exige o combate a problemas como o turismo excursionista, a ausência de transportes públicos para acesso aos destinos e o consequente uso do carro, a escassez de serviços de alojamento para estadias mais prolongadas e a falta de pessoas qualificadas para serviços turísticos de índole cultural.

A implementação da rota vai ser acompanhada de um programa de apoio à educação patrimonial e ao turismo sustentável, orçado em 145.000 euros – o Turismo de Portugal investe 116.000 euros e as autarquias a restante verba. Criada para as populações jovens dos quatro concelhos, a iniciativa destina-se à formação turística de agentes locais e à implementação de sinalética no âmbito da rota.

Um projecto comparável ao da Nacional 2

A Estrada Nacional 2, que liga Chaves a Faro, numa extensão de 738 quilómetros, foi eleita um dos 19 destinos a visitar neste ano pelo guia de viagens norte-americano Frommer’s, e a convicção da secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, é a de que a Rota das Fortalezas Abaluartadas da Raia pode gerar a mesma repercussão no estrangeiro, assim implementada. “Quem conhecia a Nacional 2 fora de Portugal aqui há três anos? Era difícil encontrar alguém. As pessoas vêm à procura de algo que não encontram noutro sítio e os projectos de escala levam-nas a ficar mais tempo”, salientou, em Valença.

A secretária de Estado elogiou os municípios por eliminarem as “capelinhas e as fronteiras que os separam”, tal como no projecto da Nacional 2 – envolveu os 32 municípios atravessados pela estrada e recebeu financiamento do Valorizar –, e por ajudarem a desmistificar a ideia de que Portugal é apenas um “destino de sol e praia”. “Ainda há défice de conhecimento de Portugal no estrangeiro. Estamos a chegar a mais mercados, mas o mercado sozinho não funciona. É preciso mostrar o que as pessoas não conhecem”, referiu.

Sugerir correcção
Comentar